domingo, 8 de maio de 2011

As últimas faces do rock no Brasil: para um novo Renascimento

Será preciso um estudo sério para dar conta satisfatoriamente da explicação dos ciclos das gerações musicais, pois ainda que pareça um trabalho complexo e questionável, tal fato com as gerações da música se mostra relevante e evidente. Para citar os últimos exemplos: no Rock, depois de uma inserção no Brasil vista de maneira crítica por parte de nacionalistas a partir da segunda metade do século XX por ser um produto cultural americano, e da adaptação da proposta inerente ao próprio rock sobre atitude e questionamento em relação à situação política brasileira que corresponde à Ditadura Militar, o que a grande mídia tem apresentado atualmente como rock às novas gerações é algo entendido como uma baixa do próprio estilo no Brasil. 

Os primeiros discos do NxZero e do Fresno, além a explosão do Cine e do Restart ditaram uma moda jovem e uma atitude dedicada ao consumo de crianças e adolescentes, numa faixa de 10 a 15 anos. A partir de 2005 essa nova onda da geração rock se instala e é mantida por programas da MTV Brasileira e o seriado Malhação, da Rede Globo. Estes dois mecanismos de compartilhamento de produtos culturais tem se mostrado como alguns dos principais no mundo juvenil. Mas como cada produto vendido tem uma validade, 2011 parece ser um ano em que essas bandas, ou as mais expressivas delas como o Restart, tem se saturado na TV por conta da expressiva exploração da imagem na TV que lhe renderam diversos prêmios, muito dos quais seguido de vaias, o que já indicava o começo do fim da era colorida

Restart.

Enquanto Fresno e NxZero simbolizam a rápida moda melancólica Emo na MTV, o Restart, mais um produto de Rick Bonadio, vendeu a ideia de rock para uma faixa etária delimitada, o que fez outras bandas mais antigas ou novas bandas que conservam as ideologias do politicamente incorreto (como muito se diz hoje) ou da crítica social deflagrarem ideias contrárias a essa padronização do que eles chamam de "rock da Disney". De fato, a proposta de bandas como o Restart é esquecer os problemas por quais o país e o mundo passa, problemas esses que foram refletidos por bandas como Titãs, Plebe Rude, Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Raul Seixas, Cazuza e toda uma outra geração que persiste em existir, mas só tem, em sua maioria, conseguido espaço ultimamente no meio underground. A proposta de viver a vida de moda livre, sem responsabilidades sociais, posicionamento político e sem a atitude crítica do rock tem colocado como o Restart como um vilão entre aqueles que querem o rock enquanto uma função social como a conscientização prática, além do divertimento. Inclusive tem, se colocado o Restart como uma banda de pop ao invés de rock para evitar esse conflito, mas é patente o mal-estar criado pela supervalorização da banda teen.

Enfim, com as mudanças na programação da MTV em 2011, nota-se que a supervalorização a bandas como o Restart tem perdido espaço na TV. 2011 também é o ano do Rock In Rio no Brasil, e isso pode fazer com que os velhos ideais do rock voltem e se apresentem a todas as gerações brasileiras, entrando em detrimento de maneira mais explicita com os valores de domesticação que bandas que fogem da realidade expõem. Ou mesmo, uma nova geração dentro do rock surgir, agradando ou não os ideais do passado, mas com certeza diferente do que é consumido hoje em excesso pela juventude.

Como a história do rock tem mostrado, os ciclos existem e nunca se mantêm. O New Wave e o movimento Hippie surgiram com a proposta de criar uma nova realidade, diferente do que viveram. Mas logo veio bandas como o Grunge e o Alternativo, para mostrar que a realidade era fria e dinâmica, e que continuava como um tema a ser trabalhado pelo rock. Não se pode dizer de certeza que haverá na grande mídia uma maior valorização ao Rock, mas uma coisa é certa: chegou a hora de ser esquecido o padrão de rock vendido na MTV de 2005 a 2010, seja pela decisão da própria empresa, seja pela saturação e demanda de uma série de consumidores de rock, que querem ter seus outros produtos valorizados também e suas faixas etárias respeitadas.

É nesse contexto de renovação que sugiro que estamos prestes a ter um novo Renascimento Cultural dentro do Rock'n'Roll, e tenho minhas apostas:

* O velho e bom rock tem se mostrado existente em bandas underground ou alternativas, e cabe à grande mídia oferecer espaço para essas bandas, ou mesmo essas bandas crescerem a partir de estratégias de divulgação na mídia alternativa que tem se consolidado cada vez mais - a internet. Particularmente, indico que escutem desde já o novo CD do Detonautas, quando for lançado, e as músicas dos Gametas, uma boa banda de hard rock;
* As bandas antigas estão voltando à MTV, e isso poderá fazer com que a juventude limitada a um único produto tenham possibilidade de conhecer a história do Rock e com isso modificar percepções acerca do estilo;
* Por fim, o que vier no futuro em termos de rock produzirá músicas considerando a crítica a essa época do "rock colorido".

É isso!

@nogomes

Dicas: 





O Significado dos Detonautas no Rock In Rio 2011



Há 10 anos o Detonautas Roque Clube se apresentava no Rock In Rio, e esse foi o evento que fez a banda deslanchar e ter espaço na grande mídia. Na época, a banda abriu para o show do Red Hot Chili Peppers, onde o baterista gringo Chad Smith fez uma Jam com a banda brasileira. A gravadora, a princípio, olhou a possibilidade de a banda fracassar no evento, mas a determinação do DRC em se arriscar pelo tudo e pelo nada era maior. O resultado foi o desembocar-se como uma das principais bandas da década de 2000. Portanto, isso demonstra que os efeitos de uma apresentação no Rock In Rio tem a força de elevar uma banda a ponto de torná-la conhecida nacionalmente.

O significado principal de a banda estar no Rock In Rio é subdividido em duas perspectivas: uma em caráter estrito, sob a perspectiva da banda, e uma mais ampla, que traz um debate sobre a posição da grande mídia diante dos efeitos desta edição do Rock in Rio.
Para a banda, é a prova de que o uso da mídia alternativa é capaz de ser tão importante quanto a grande mídia, a qual o Detonautas teve uma relação de amor e ódio por conta da posição que a banda tomou sobre algumas causas sociais, sobretudo os disparos polêmicos do vocalista Tico Santa Cruz. Os boicotes de rádios e as trocas de ofensas com o produtor Rick Bonadio fez com que parte da grande mídia influenciada por este produtor, entre outros inimigos dentro do mercado fonográfico, prejudicassem a presença do Detonautas enquanto uma banda comumente conhecida. Assim, acreditando reverter a situação, é que o Detonautas tornou-se independente por apostar numa nova estrutura pelo qual acreditam, utilizando a internet, sobretudo as mídias sociais, como principal meio de divulgação do trabalho. E a primeira conquista e indicativo de que estão apostando num caminho correto é justamente a confirmação da banda – então independente – em um dos maiores festivais de música do mundo. Dentro dessa perspectiva, uma dúvida curiosa: até então alguma banda do cenário independente já se apresentou no Rock In Rio no palco principal? Se a resposta é não, dentre outras coisas o Detonautas estará mostrando às bandas independentes que isto é um sonho possível.
Para o debate mais amplo, estaríamos nos perguntando se finalmente o cenário do rock nacional não estaria mudando. Acredito muito que depois deste Rock In Rio, o que se valoriza como rock pela grande mídia – e me refiro às bandas-meteoro negociadas entre gravadoras e rádios nos dias de hoje, as quais adquirem a característica descartável e que, com isso, se ainda quiserem continuar, deve lutar por si e contra a ilusão da fama para manterem seu lugar no espaço (exemplos básicos: Fresno, NxZero, Restart, Cine). Os Detonautas tem mostrado na prática de que é possível resistir e se fortalecer fora e até contra as determinações da grande mídia. Mas não só os Detonautas são os porta-vozes de que a internet é a Sociedade Alternativa raulseixeana. Diversas bandas de cunho independente tem conseguido assegurar fãs em várias partes do país através da internet, e shows via twitcam tem se tornado comuns. Se seguirem a lógica do mercado na internet, a qual acredito ser a que segue a ideia de que, agora, “produto bom é produto gratuito e compartilhado”, essas bandas tem muito a conquistar, e um terreno para aproveitar, o qual acredito, reitero, vir com o Rock In Rio.  Pra uma banda que começou na internet, não deve ser difícil para os Detonautas manusearem a rede e mostrar a outros artistas como lidar com esta potencial nova “galinha dos ovos de ouro”. E dessa forma, como encabeçadores da revolução no mercado fonográfico (o qual coloca as bandas independentes como tão possíveis em audiência quanto bandas suportadas por gravadoras com influência na grande mídia), eles compraram a briga e já confirmaram que lançarão as músicas do próximo disco (que serão as trabalhadas no repertório para o Rock In Rio) uma a uma para serem baixadas gratuitamente na Internet, via sites como o 4shared.
É possível ainda traçar um terceiro significado, mas de fator menos importante, que é a desconstrução do discurso de jovens fãs de bandas-meteoro que passou ainda um longo tempo lançando moda apoiado pela antiga programação da MTV Brasileira, a qual esteve voltada para um público infanto-juvenil e explorando suas paixões como forma de adquirir uma audiência. Em 2011 a MTV entra com uma nova programação, onde se nota um amadurecimento nítido e, conseqüência ou não disso, o afastamento de algumas dessas bandas para o consumo pré-adolescente da programação.

Capa do Psicodeliamorsexo&distorção, até então o cd mais rock da banda.

Porque a resistência aos Detonautas nos dias de hoje?

Não se sabe ao certo a razão pelo qual há uma resistência popular para com a banda. Há quem diga jogar latas no palco no dia de sua apresentação, assim como fizeram com Carlinhos Brown em outra edição do Rock In Rio no Brasil e como pretendem fazer com outros artistas. Talvez sua constante participação nas trilhas sonoras de seriados noveleiros questionáveis ao longo dos anos ou os efeitos do boicote de quem não gosta da posição do vocalista, tenham alguma receptividade ruim. Além disso, a participação de Tico Santa Cruz no Reality Show “A Fazenda”, da Rede Record, pode ter contribuído para manchar a seriedade da banda. No entanto, Tico Santa Cruz conseguiu o que queria: tanto utilizar um espaço que a priori seria fútil para dar uma bela aula de cidadania, quanto participar de programas da grande mídia e ter espaço de reavivar a banda nesses espaços, além de repassar sua mensagem.
         Quanto às ameaças de ataques à banda no evento, eu acho improvável que aconteça e, tal qual como ocorreu em 2001, a banda saia aplaudida e com espaço elevado nas rádios. Detonautas mudou muito desde PsicodeliAmorSexo&Distorção e se tornou muito mais hard rock desde então. O assassinato do guitarrista Rodrigo Netto em 2006 fez com que a banda passasse por um período melancólico que culminou com o disco O Retorno de Saturno, de 2008. Depois do DVD acústico (que não foi gravado na MTV por questões, acredito eu, de cunho pessoal) produzido por Sussekind e do rompimento com a Sony&BMG, os Detonautas prometem, com campanhas anti-coloridos e contra o rock politicamente correto de hoje, reapresentar à juventude brasileira o ideal de rock’n’roll que a banda carrega, estruturado no Brasil pelos poetas Cazuza, Renato Russo e Raul Seixas e lá fora por bandas como Stone Temple Pilots e AC/DC.
         Além de tudo, acredito que foi estratégica a colocação dos Detonautas junto ao System Of A Down. As duas bandas têm muito em comum em se tratando de política.
Esse são os significados de porquê o Rock In Rio fez tanto estardalhaço para anunciarem Detonautas e SOAD no mesmo dia!

sábado, 7 de maio de 2011

Karina Buhr: o caleidoscópio da cultura regional



A cantora nascida na Bahia e crescida em Recife Karina Buhr surge na minha percepção a partir da primeira edição Grêmio Recreativo MTV, um programa de bom gosto comandado por Arnaldo Antunes que visa apresentar e socializar artistas novos e velhos, misturando as qualidades e individualidades entre já famosos e "novatos", termo que imputo aos que só agora recebem espaço numa mídia como a TV com maior ênfase. Engana-se, portanto, aquele que acha que esses "novatos" tenham começado a carreira agora. O caso de Buhr, por exemplo, é típico para demonstrar a dedicação à música por um longo tempo. Karina faz parte do Comadre Fulozinha, uma banda pernambucana que se destaca na música e no teatro (semelhante ao trabalho magnífico de Antônio Nóbrega) desde 1997. Conhecida no meio "underground" pernambucano e participando de algumas parcerias, pode-se dizer que Karina Buhr chega a seu ápice neste momento (e aposto que ainda pode chegar mais longe).

Mas porque Karina Buhr chama a atenção?

Inicialmente, sua beleza é motivo para não passar despercebida. Seus olhos esverdeados, reforçados pela maquiagem colorida, são apaixonantes. Em segundo lugar, seu jeito de menina tímida (apesar de mulher madura), que nos faz pensar se tratar de uma simples garota do nordeste sem tantas ambições, surpreende quaisquer um que veja seus shows devido à energia demonstrada. Em terceiro lugar, e o principal deles, sua música: o primeiro trabalho solo de Buhr, intitulado "Eu Menti Pra Você", é lançado em 2010 como um dos grandes discos do ano. Pela qualidade, conquistou maiores espaços, chamou a atenção. Músicos como Edgard Scandurra (Ira!) e Fernando Catatau (Cidadão Instigado) também contribuíram na produção e divulgação do disco, havendo participações destes em shows de Buhr (inclusive no Grêmio Recreativo MTV, que ficou encantador). Em termos de sonoridade do disco, há muita influência de diversas fontes e instrumentos, mas o mais marcante é a presença da percussão, que sobressai outros instrumentos. Em termos de estilo musical, há canções mais pesadas que rememoram ao rock e outras parecendo funk. A diversidade distribuída no disco, no entanto, é unificada sob uma característica em comum que também é marcante e especifica a naturalidade da cantora: o sotaque.

O Caleidoscópio da cultura regional

O timbre da voz de Buhr, somado a seu sotaque nordestino resplandece e se impõe diante de todo esse processo de equalização do sotaque do sudeste. Não é difícil encontrar artistas que eliminam seus sotaques   regionais ao quererem tentar a vida em SP ou RJ. Até pra fugir do preconceito ou apresentar uma nova proposta de música mas dentro dos moldes sonoros acostumados por esses estados, tais artistas tentam de alguma maneira driblar essa influência. Deve ser por isso que, diante de tantos artistas vindos de tantos lugares, Karina Buhr se destaca e é elogiada justamente por manter os modos de dizer cotidianos do povo nordestino  (não limito o sotaque de Buhr somente a Pernambuco porque eu, que sou alagoano, me identifico muito também com o sotaque dela). É muito satisfatório ver que esse sotaque e essa voz angariam fãs de outros lugares do país, pois a linguagem é também parte integrante de uma cultura regional - senão a mais expressiva parte integrante - e sua socialização é proveitosa no sentido de propagandear aquilo que outros tem limitado, além de tornar conhecido os nossos modos de nos expeessar.
Sobre as letras, Buhr mostra-se muito inteligente. Não estou subestimando a sua capacidade de compor, não falo disso. Me refiro à sabedoria em explorar o sotaque e a aparência de menina tímida para cantar músicas que vão da mais singela ludicidade à crítica social. Vale muito a pena conferir a proposta de cada música de seu disco solo.






Ao vivo, Karina Buhr não deixa a desejar. Desde o figurino, seja ele de renda ou extravagante, a cantora mostra uma presença de palco que desenha sua qualidade. Chamo-a de Caleidoscópio da cultura regional justamente por seu show parecer um Caleidoscópio, onde a pedra preciosa (afirmada pelas vestes brilhantes) está ali cantando e girando o microfone no pescoço, nos lembrando de The Who.

Por fim, fica o meu desejo de poder estar presente em alguma performance de Karina Buhr ao vivo. No dia em que ela aportar em Maceió (e espero que não demore muito), estarei lá para vê-la. Não é exagero dizer que tornei-me fã dela. Admiro a mescla entre o regional e o universal, entre o sotaque e a expressão que todos compreendem, entre o interiorano e o urbano. Karina Buhr é uma artista que traz orgulho e que tem tudo pra se afirmar cada vez mais, basta lidar com as ondas do sucesso, pois como a própria já diz em Ciranda do Incentivo, "Mas é preciso entrar no gráfico do mercado fonográfico..."




@nogomes

Linkin Park's A Thousand Suns: os vídeos

Abaixo segue uma lista com os vídeos das músicas de A Thousand Suns. Note que há uma temática comum entre todos eles, que se combinam na proposta do disco: a ambivalência entre a beleza e a destruição, ambos frutos das relações humanas, da natureza, e da relação homem-natureza.


The Catalyst


Waiting For The End


Burning in The Skies