quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rock In Rio: Essências x Capitalismo


No Blog do Tico Santa Cruz dei minha opinião ao post que ele fez pra justificar a necessidade de o Rock In Rio ter outras atrações além do Rock. O mesmo ressaltou a importância de outros estilos como o Pop para a manutenção do evento, visto que, segundo as considerações dele, o consumo do Pop é quem paga boa parte das atrações que os próprios roqueiros curtem. Até então seria uma exclamação e um ponto final na tensão, mas as coisas não terminam por aí. Há muito mais envolvendo a questão entre roqueiros e não roqueiros no Rock In Rio. Essa foi, portanto, minha explanação:

"Explanação muito válida, mas acho que devemos pensar do ponto de vista do público roqueiro. Acredito que o Rock In Rio, justamente por ser uma marca, não perde seu caráter alienante. E por si só, o nome do evento sugeriria alguma exclusividade para um determinado gênero. É isso que causa todo o furdunço na cabeça dos roqueiros que querem exclusividades. Talvez por ausência de outros eventos grandes lá fora, talvez pela alienação que a marca insere facilmente na mente, estamos fadados a não ter uma fácil aceitação desse público em relação a outros estilos. É uma questão de comparar duas realidades distintas: o RIR enquanto produto capitalista e o RIR enquanto essência para uma tribo fiel. Essa busca por exclusividade justamente se dá pelo fato de outros gostos musicais diferentes do Rock dominarem o Brasil. Essa tensão entre roqueiros e não-roqueiros é menos visível lá fora porque lá o Rock é um dos gêneros que dominam. Aqui, a tensão é muito maior e criticar outros estilos no RIR é uma forma de autoafirmação.

Entendamos uma coisa: o Rock no Brasil (digo isso enquanto uma instituição social) busca um espaço só seu, assim como os festivais de música sertaneja tornam exclusiva a música sertaneja e os festivais micareteiros se concentram integralmente ao Axé. O Rock In Rio é um evento democrático e devemos elogiar isso, mas se for para sermos democráticos, deveríamos então ter um dia no Carnaval e na festa sertaneja só dedicado ao Rock. O certo é que a mesma crítica ocorreria por parte daqueles públicos em relação ao Rock, que já é comumente taxado nas cidades pequenas como estilo musical de maluco. Portanto, acredito que, considerando o RIR enquanto um produto e não uma essência, falta no Brasil um evento de grande porte realmente voltado para o público Roqueiro. Se já existe eu não conheço, mas é preciso existir pra ajudar na afirmação dessa autoafirmação. Acho até que é isso que falta pra parar com o fato de o rock ser pautado pela MTV ou por rádios Rick-Bonadiarianas.

Sabemos da utopia de um grande festival exclusivamente roqueiro no Brasil. Como dissestes, chega a ser economicamente inviável trazer nossos ídolos em vários dias se formos limitar o consumo da música somente aos roqueiros. Notamos aí uma relação do campo econômico com o campo cultural. Mas fã de rock costuma fechar os olhos pro campo econômico, desejando apenas sua dedicação ao campo cultural. O que quero dizer é que, enquanto campo econômico e cultural não se entrelaçarem de maneira ideal, não teremos esse evento. Isso significa que é preciso haver um maior investimento num rock de qualidade no Brasil através da internet, rádios e TV, para o aumento de consumidores do estilo e, assim, criarmos um público tão grande (mesmo que demore algumas gerações) quando o público consumidor de axé, pagode, forró e sertanejo. Enfim, é isso."

Mantenho, portanto, minha indagação a respeito da necessidade das relações entre campos simbólicos distintos e a consideração dos mesmos para o debate. Apontei uma possível solução, que é muito mais difícil de ser resolvida do que a conscientização dos próprios consumidores do evento, mas menos utópica do que esta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Que Feeling é Esse?



Sid, do Slipknot, dá um "mosh" no público pulando de uma torre de cerca de 4 metros de altura. O que justifica essa confiança no público para fazer isso?

O Slipknot é até então o grupo mais performático do Rock In Rio de 2011. Não é novidade tal fato. Talvez eles sejam mesmo o grupo mais performático do mundo atualmente (para além do Kiss, do Marilyn Manson, do Ozzy, etc.) e são famosos por isso além do som que empenham dentro do Nu Metal. 

Neste show do dia 25/09, durante toda a apresentação e sobe e desce de percussões, giratórias da bateria quase que a invertendo por completo, um fato surpreendente: enquanto era executada em coro a música Duality, Sid, dj do Slipknot, atravessa o corredor que divide a platéia e se encaminha para o limite da torre da mesa de som, situada na frente do palco. De lá, o público o assiste pular nas pessoas, que o seguram com cautela. É um momento que não podia passar despercebido por quem assiste a banda, seja do Rock in Rio ou em casa, acompanhando a transmissão na tv ou internet. É o que temos na sequência de imagem acima. Se você não viu o vídeo, ele está logo a seguir:


A grande questão é: como Sid, o carinha da banda que pulou no público, conseguiu fazer isso (por 2 vezes!) sem escrúpulos suficientes para o fazer voltar atrás?
Estamos falando de formas performáticas perigosas. Vemos isso com mais frequências entre os fãs, que quando sentem vontade, sobem no palco (quando é possível) e pulam para os outros da platéia segurarem. Essa atitude é conhecida no meio roqueiro como o termo "mosh". Mas é difícil encontrar essa ação com artistas, quando eles são os agentes produtores do entretenimento e, por isso, ocupam uma posição de admiração por parte de quem paga para lhes assistir. Talvez seja uma rotina do Slipknot em fazer isso por todos os lugares que eles vão - e, naturalmente, parte da performance - mas quero refletir sobre esse ato que não deixa de ser perigoso, o que poderia trazer um prejuízo para a banda caso as coisas descem errado e ninguém segurasse Sid. Outros artistas também fazem essas estripulias, como Kurt Cobain do Nirvana. Tais artistas parecem encontrar coragem suficiente em algum lugar para a prática a essa ação, somada à suas crenças (ou ausência mesmo ausência delas) de que irá sair tudo perfeito; estou falando, em outras palavras, que pode parecer que eles próprios nem se importam mais do que os fãs consigo mesmo quando vão fazer moshs ou outras performances de risco.

Defendo a ideia de que, quando as relações estão numa tensão harmônica em busca de um objetivo final cuja meta está sendo conquistada (no caso de um show, a satisfação da banda com o artista), criam-se laços, ainda que rápidos, de fidelidade e satisfação entre os agentes envolvidos. Sejam eles cliente e vendedor, patrão e empregado, fã ou ídolo. Talvez tenha sido por isso que Sid sentiu-se seguro em pular para aquele público que demonstrava satisfação com a banda a cada canção cantada. Talvez tenha sido porque Kurt Cobain apenas não se importava se iria se machucar (como aconteceu algumas vezes), mas entendia que pular no público durante um determinado momento seria uma atitude underground e rock'n'roll que valesse a pena (confira o show do vídeo abaixo)


Kurt Cobain e o Crowdsurfing - Surfando na Galera


O certo é que há algo no Rock (deve haver nos outros estilos musicais também, mas eu não sinto), seja ele colorido ou de death metal, em que se gera algo como um "clima" propício àquele momento, o que faz criar adrenalina e outras substâncias agradáveis no corpo, capazes de nos tirar dos braços cruzados e acompanhar com diversão o show. Deve ser por isso que temos as rodas punks, os moshs, os crowdsurfings, os headbangings (batimento de cabeça - um sucesso para quem tem cabelão; não é o meu caso mas é minha forma preferida de exalar satisfação nos shows de rock que assisto). 

Mas para além disso, há um sentimento de companheirismo mútuo. Ocorre quando os artistas pedem ajuda da platéia e eles atendem, ou quando os fãs se batem numa roda e se ajudam caso algum caia ou seja atingido pra valer em alguma parte do corpo que machuque muito. Aí eu já não sei até onde isso só acontece com o Rock, mas acho que pra cada estilo musical há uma maneira diferente de demonstrar essa rápida epifania. O que eu posso dizer é que fazer isso no rock é compensador e satisfatório (eu e meus amigos fazemos isso e concluímos isso convergentemente), e bem menos vulgar do que o beija-beija das micaretas, estupros dissimulados do funk e briga no forró por cantarem a mulher dos outros; portanto, meus aBEgos, ainda que eu volte pra casa com os braços roxos, eu prefiro é ir pra um show de ROCK, man!