Por Wanderson Gomes
Abrir o olho! Enxergar! Enxergar mais do que se pode ver ou do que se quer que veja. A tolerância das relações cotidianas, os desprazeres do mundo “moderno”, a embriaguez que causa a “God Industry” são mais sombrias, menos ocultas e mais descaradas do que propriamente as batidas provindas dos corpos que exalam o Rock And Roll. Essa comparação preliminar possui uma explicação básica: por décadas estudiosos de todas as áreas buscam contemplar o estilo musical em contraposição com a “paz”, o “amor” e a “fé” eclesiástica. Em outras palavras, quando a submissão e a crença alienante que cega e limita os indivíduos possuem seus postos ameaçados, as forças controversas se prestam a tentar intervir e mascarar a realidade, numa luta incansável pelo fim dos “porquês”.
Essa discussão sempre foi um dos objetos de trabalho de uma das maiores bandas de rock do mundo. O Slipknot, desde o lançamento do álbum homônimo, em 1999, se baseou em letras que estimulavam a produção artística de uma substância inédita. Não que o questionamento das “verdades imutáveis, inquebráveis” seja novidade no mundo do Rock, especialmente por ser essa a sua atitude pré-determinada, mas, sem sombra de dúvidas, começou a ser traduzida pelo Slipknot de uma forma que submetia ao extremo os sentimentos mais íntimos, dolorosos e obscuros com o qual o “homem moderno” poderia se confrontar. Dessa forma, o “Sou o empurrão que faz você mexer” sempre fez parte da filosofia da banda e esse aspecto é imprescindível aqui. Ou seja, se percebermos a produção de outras bandas da mesma corrente do rock, vamos, a partir de dados concretos, afirmar que, mesmo depois de aproximadamente 15 anos, Slipknot não alterou radicalmente a linhagem de sua produção material.
O niilismo presente nas canções é um valor do grupo que, por sua vez, variando entre vibrações violentas e outras mais melodicamente distribuídas, se buscou preservar a todo custo. As máscaras tenebrosas não escondem, não são desculpas para um palavreado ilimitado e medo das consequências, mas são sim uma contraposição jamais vista igual no “inferno industrial musical”, contraposição a um mundo que cultua o poder da perfeição física-material como produto de venda a preço acessível aos lobos do sistema da “arte”. Slipknot, está mais que óbvio, desperta medo, por questionar o inquestionável e se sobrepor a essências mesquinhas do espírito humano e seus desejos insaciáveis por fracasso... E mais fracasso. Slipknot se faz apaixonar, a partir do momento que implora agressivamente que faça você mesmo, não espere. Não espere! O sucesso merecido levou a banda aos postos mais altos da Billboard, tornou Joey o maior instrumentista, em sua área, do mundo. Imortalizou Paul Gray na “Fallen Heroes – Revista Revolver”, ao lado de ícones da música rock como The Rev (Avenged Sevenfold), Cliff Burton (Metallica), Dimebag Darrel (Pantera) (fonte: http://www.slipknotbr.com). Muitos outros discos de Ouro e Platina se tornaram costumeiros. Entretanto, seu espírito parece intocável, o mesmo espírito questionador e subversivo que estava ativo na criação do polêmico “The Heretic Anthem”. O mesmo que enxerga podridão por detrás dos sorrisos amarelados dos dirigentes pseudo-incorruptíveis.
O som Slipknotiano causa êxtase, é confuso por ser devastador, defende causas já tão perdidas no tempo pelo homem engravatado e que bebe nos fins de semana, como uma morfina que entope de certo prazer as suas dores. Enclausura o “tudo bem” e trás o medo à tona. O medo de tudo, a dor dos problemas convencionais e outros inexplicáveis, o pai que não se teve ou o sentido das coisas do mundo, como dois amigos que se vêem depois de um longo tempo para tomar um café e conversar, só que de uma forma extremamente mais energética. É nesta banda que o rock se materializou/personificou como grandioso, como ainda vivo, de proposta subversivamente ativa e revolucionária, como os estímulos antigos que o originou. O indescritível se descreve em Slipknot como comum e aberto a discussões, o impossível se alimenta só na casta eclesiástica, mas aqui é resgatado. As vibrações criaram a seus adeptos uma nova forma de ver o outro lado, um novo “Eu-Rock” que se autodenomina, sem a intervenção de terceiros. Não é tudo que causa o Slipknot, mas é uma tentativa de reflexão sobre o pouco que é passível de ser descrito com palavras.
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