terça-feira, 26 de junho de 2012

A forma e o conteúdo de Living Things



O Linkin Park está lançando mundialmente, neste 26 de Junho, o seu quinto disco de inéditas, Living Things. E pra não deixar passar batido este fato, o Rock e Sociedade preparou uma análise sobre a forma e conteúdo do material (sim, a audição já estava disponível no iTunes e o disco estava vazado desde o dia 15). Isso significa que trataremos aqui tanto da apreciação da música quanto da letra. Desde já esclarecemos que os pontos de análise não são baseados na crítica especializada - trata-se de mais uma produção da experiência da audição do material por um fã que gostaria de compartilhar com quem quiser saber sobre como é possível perceber este novo disco que, assim como os demais, significam uma quebra de paradigmas sobre as expectativas em relação à banda.

Assim como A Thousand Suns (2010) - e desde Minutes to Midnight (2007) - o Linkin Park mostra a superação em relação ao seu antigo rótulo de Nu-Metal, que vez ou outra surge com alguma banda (vide Deftones e Hoobastank) ainda ofegante, mas que se encontra contextualmente enterrado desde a metade dos anos 2000. No entanto, pode-se dizer que Living Things é uma reconciliação com o estilo que consagrou a banda, mas considerando também as contribuições dos demais álbuns. Se em Hybrid Theory (2000) e Meteora (2003) nós vemos as explosões de guitarras sobrepostas sobre uma batida eletrônica com scratches, gritos e raps perpassando pelas músicas com temas de natureza de conflito pessoal, em Minutes to Midnight vemos uma primeira experiência revolucionária para a banda: poucos raps, ausência de eletrônica e apelo melódico para cantar uma mistura de temas pessoais com temas políticos. Em A Thousand Suns, a revolução ocorre mais uma vez: um disco conceitual, bem mais politizado, com poucas faixas voltadas para o rádio. Dessa vez a guitarra fica para o último plano; a eletrônica domina, e Mike Shinoda surpreende com novas formas de rapping. E então, dois anos depois, chega ao mundo Living Things: um disco contrário ao ATS, menos politizado, menos polêmico também, cheio de baladas, dando a certeza que se o último disco não foi algo pro público, esse com certeza será. As guitarras voltam e fazem lembrar Meteora. Mas não se trata de mais um disco de Nu-Metal - MTM e ATS também deixam suas marcas a ponto de que este novo trabalho é uma colagem de tudo o que o Linkin Park produziu de bom até agora. Os temas centram nas questões pessoais, e encontramos músicas com as melhores vocalizações de Mike Shinoda e Chester Bennington até então. É mais um disco para ficar na história. 

As músicas comentadas em relação à forma e conteúdo você vê agora:

1. Lost In The Echo

Forma:  2 fundos eletrônicos e uma guitarra subordinada ao sample. A grande jogada da música é realmente o rap do Mike: temos aqui o melhor rap do cara em todos os discos do Linkin Park. A agressividade com a qual Mike incorpora o rap é a grande carta na manga pra uma música aparentemente normal para o Linkin Park.  Chester entra sempre pra repetir um refrão curto e igual. Isso faz com que as 3 longas estrofes do rap de Shinoda sejam melhor apreciadas.

Conteúdo: A melhor frase é esbravejada por Mike em sua última estrofe: "I don't care/Where/The enemies are" (eu não temo aonde os inimigos estão). Trata-se de uma música com temas pessoais, como é em todo o álbum. Parece uma mensagem para alguém que errou e teve sua reputação reduzida a nada.


2. In My Remains

Forma: Mais uma vez 2 fundos eletrônicos (1 para uma base alienígena e 1 para coordenar a melodia que será seguida pela guitarra estrondosa). O verso é limpo com a voz de Chester seguida por um teclado e bateria. Na estrofe após o primeiro refrão Mike Shinoda aparece pra fazer backing vocal para Chester. Depois do segundo refrão, um pouco de silêncio e depois surge Mike cantando "Like an Army, Falling, One by one by one". Esse momento também é o mais importante da música. A ascenção com a qual essas frases são cantadas são o peso animador da canção.

Conteúdo: Se em Lost In The Echo nós tivemos uma sanção a alguém por um erro que este alguém cometeu, em In My Remains temos uma situação parecida, tendo no entanto o agente falante reconhecendo que também não cumpriu as promessas com a outra pessoa. A música trata, em outras coisas, de objetivos não alcançados.


3. Burn It Down

Forma: Temos aqui 2 teclados (sintetizadores?) como fundo. Mais uma vez a guitarra surge acompanhando a base de proposta eletrônica. Chester mostra uma primeira surpresa em seu vocal. O eco em sua voz reforça para que a música grude na sua cabeça e que você ouça todas em momentos próprios, como noites chuvosas. O refrão é explosivo e mais uma vez Chester mostra domínio na voz com um alcance de tom incrível (covers não repetirão isso com facilidade). E depois que se vai o segundo refrão, Mike aparece com seu rap mediano incendiando a canção em seu ponto alto. (Mike parece realmente ser o ponto-chave deste disco)

Conteúdo: A letra parece muito uma continuação de Burning In The Skies (curiosamente, também é uma terceira canção no álbum A Thousand Suns). As semelhanças não são por conta do "Burn" no título, mas pela temática da destruição. Enquanto em Burning In The Skies se anda em pontes que o indivíduo queimou por ele mesmo, em Burn It Down é cantado um ciclo de erros sem solução, como se não se tentasse outra alternativa para um determinado fim. A frase mais emblemática da música pode ser "Tudo o que eu precisei foi a única coisa que não pude encontrar".

4. Lies Greed Misery

Forma: Com introdução eletrônica, o rap de Mike parece uma volta ao experimentalismo de A Thousand Suns. É provavelmente a contribuição de ATS mais visível em Living Things. O destaque está no grito de Chester na parte final da música.

Conteúdo: "Eu quero ver você engasgar em suas mentiras, engolir a sua ganância, sofrer sozinha em sua miséria", quando cantada no refrão explosivamente, mostra o lado de irritação da banda. Essa letra lembra as queixas encontradas também em In The End (Hybrid Theory).

5. I'll Be Gone

Forma: Com início eletrônico, a tonelagem da guitarra se sobrepõe e (dessa vez) não se subordina aos samplers. Desde a estrofe comum aos versos, Chester Bennington inova de uma maneira que é possível apostar que essa é a melhor música já cantada por ele. Uma melodia doce que vem de sua voz e que martela (principalmente no refrão). Mike acompanha timidamente em algumas partes, principalmente no refrão. É a música que mais se parece com músicas do Meteora.

Conteúdo: A letra é de despedida. Talvez uma carta de suicídio, talvez menos negativo que isso. A frase certamente mais emblemática vem no pós-refrão: "E diga à eles que eu não pude me ajudar / E diga à eles que eu estava sozinho / Me diga, eu sou o único e não existe nada que me faça parar." Uma música triste que tem, no entanto, uma melodia apaixonante.

6. Castle Of Glass

Forma: Com uma batida meio country ou soul e uma introdução em teclado, Mike Shinoda canta uma melodia muito suave. Com uma voz calma, agradável, que se mistura no refrão com a de Chester a ponto de não vermos quem é quem. Essa mesma experiência vocal está em Burning In The Skies, do A Thousand Suns. A música é o tempo todo determinada pela bateria. Uma sonoridade tão incrível quanto I'll Be Gone.

Conteúdo: Uma letra humilde, de reconhecimento de fraqueza, de pedido de ajuda depois de uma situação fracassada e desgastante. Como Mike diz, "Lave a tristeza pra longe da minha pele e me mostre como é estar inteiro novamente." Como Chester diz, "Porque eu sou apenas uma fresta neste castelo de vidro
Não sobrou quase nada pra você ver."

7. Victimized

Forma: A batida parece um punk-hardcore, quando é cortada pelo vocal de Mike cantando suave e surpreendendo a música por isso. E no refrão Chester vem explodindo tudo de acordo com a proposta inicial da música. Então, logo depois, Mike reaparece agora fazendo rap, até que Chester, com seu grito até o talo, corta a canção mais uma vez. É a música mais explosiva do disco. Mais louca também.

Conteúdo: A música trata de um acerto de contas, aonde o prejudicado ("vitimado") toma a sua vez e enfrenta o problema. Todo o rap do Mike explica: "Eles estão agindo como eles querem um motim / Então eu darei um motim a eles / À medida que as sirenes tocam mais alto, num ritmo violento / Jogue suas cobras na grama, abastecendo o veneno / Eu não estou assustado com suas presas, eu admiro o que há nelas / Você esteve esperando nas sombras, pensando que está escondido / Mas a verdade é que você vai ter que tropeçar para pegá-los / Lauryn já os acertou / E você deve estar brincando / Quer falar sobre uma vítima? / Eu vou colocar você lá com eles"

8. Roads Untraveled

Forma: Com mais uma introdução de batida alienígena (coisas de Joe Hahn), o lado orgânico da música começa com Mike aos pianos e cantando (de maneira surpreendente tanto quanto em Castle of Glass). A música tem uma pegada mais triste, mas a letra é mais animadora do que em I'll Be Gone, por exemplo. Chester acompanha com backing vocals. Mas a parte alta da música é uma vocalização (aonde Mike mais uma vez surpreende) que lembra Back Back Train do Aerosmith (Honkin On Bobo), e o solo de guitarra que vem logo depois.

Conteúdo: A música é basicamente uma auto-ajuda. Uma conversa entre alguém experiente ditando um conselho para alguém inexperiente que esteja passando pela mesma situação agora. O dueto Mike e Chester cantam "Não chore pelas estradas em que não andou. Não chore pelos sinais que não viu. Talvez seu amor nunca acabe, E se você precisar de um amigo, Há um lugar aqui, junto de mim."

9. Skin to Bone

Forma: Uma música com estrutura inovadora para o Linkin Park. Intencionalmente sem guitarras (substituída por samplers), a música segue-se com frases curtas cantadas Mike Shinoda num efeito vocal que mais parece uma distorção em seu limite. Mas a melodia é suave, talvez a música mais "não-Linkin Park" do Linkin Park. Há algo que lembra o folk. Algo acústico, apesar da presença forte do eletrônico e da bateria modificada.

Conteúdo: Uma letra de advertência. Percebendo o erro inevitável que está por vir, citam-se as descontentes "Quando seu nome finalmente sumir, eu estarei feliz por você ter ido embora" e "Conforme a luz das estrelas se torna cinza, eu estarei marchando para longe".

10. Until It Breaks

Forma: São três músicas em uma só. Um resquício de A Thousand Suns?? Temos um Rap do Mike semelhante a When They Come For Me, uma melodia cantada por Chester que mais lembra animes dos anos 80/90 (parece Dragon Quest ou algo parecido, ou mesmo as músicas de vitória dos Final Fantasy's).

Conteúdo: a letra é tão direcionada a algo/alguém que não foi possível interpretar de uma maneira mais universal. A única coisa que se pode tentar interpretar como algo universal é a parte em que se fala de Banksy e Brainwash, ícones da arte de rua e pop-art. "Eu sou apenas um Banksy e você é um Brainwash. Se ligou nisso?"


11. Tinfoil

Forma: É uma música instrumental (eletrônica) que dá início à última faixa, Powerless. Portanto, não tem conteúdo na letra.

12. Powerless

Forma: Chester canta sobre uma base de piano. A presença da eletrônica se mantém, mas como um ruído simples ao fundo. A música vai ganhando novos elementos (a bateria - em batida de balada - vem depois do primeiro refrão, junto com o backing vocal de Mike Shinoda). Depois a guitarra se faz presente para um solo seguido de vocalização. Uma música calma, que sugere reflexão, lembrando Leave Out All The Rest (Minutes to Midnight).

Conteúdo: É uma música sobre relacionamentos fracassados. Alguém que tinha o poder em mãos e por isso deixava o outro fraco. E de repente se descuidou e estragou tudo. "E você tinha tudo, mas você foi descuidado para deixar cair. Você tinha tudo, e eu estava ao seu lado, impotente".

domingo, 26 de fevereiro de 2012

10 pílulas do rock nacional para as desilusões amorosas

Segue uma listinha básica de músicas que são a dose certa para desilusões amorosas. Dentre bandas nacionais contemporâneos e artistas clássicos, o tema transcendental cantado em todas essas músicas não tem prazo de validade. Enjoy!




I. Harmada - Sufoco


Vai fervendo às seis da manhã o café que eu fiz
Pra te livrar desse sufoco
Dessa coisa tola que eu não sei explicar
E vai passando na TV qualquer bobagem
Só pra te fazer dormir em casa
Uma hora, outra vez

Faz tempo eu não te vejo mais em mim
No silêncio não encontro o que dizer
Agora o que eu preciso acreditar
É tudo o que eu queria esquecer
Por hora já não sonho mais por nós
Nem tento disfarçar qualquer razão
Se hoje o que eu preciso te mostrar
É mais do que eu consigo te dizer
Perdão

Tudo que era seu ainda está aqui guardado em casa
A cor, o som, a roupa que eu achei
Pra você vestir quando acordar melhor
E antes de sair eu sei
Vai me olhar nos olhos
Como que pedindo pra ficar
Só por uma noite, um talvez

Faz tempo eu não te vejo mais em mim
No silêncio não encontro o que dizer
Agora o que eu preciso acreditar
É tudo o que eu queria esquecer
Por hora já não sonho mais por nós
Nem tento disfarçar qualquer razão
Se hoje o que eu preciso te mostrar
É mais do que eu consigo te dizer
Perdão




II. Terceira Edição - Pois Não



Esqueceram de avisar
Aonde o mundo foi
E eu não me despedi,
Eu queria te pedir...
Eu não pude te abraçar
e niguém mais ficou

Esqueceram de dizer
Quando água acabou
E eu não pude mais chorar,
Eu tentei chorar
Eu fiquei triste...
Lágrima não desceu

E não se esqueça,
Na primeira chance,
De pedir pra descer também
E não se sinta mal,
Se é pra viver tão triste assim,
O melhor é...

Esquecer de tudo... Então
Esquecer do mundo... Pois não

Esqueceram de falar,
E eu esqueci de ouvir
E eu não pude acreditar
Que melhor não pode ser
Eu criei meu próprio mundo
E onde está você?

E não se esqueça,
Na primeira chance,
De pedir pra descer também
E não se sinta mal,
Se é pra viver tão triste assim,
O melhor é...

Esquecer de tudo... Então
Esquecer do mundo... Pois não

E ela então se foi e nunca mais me viu
Ela que cresceu, nunca mais viveu



III. Sabonetes - Hotel


Roupas no varal
Chuva de verão
Os dias soltos no quintal
Vão me dando a direção

Se você perguntar o que eu fiz
Se você quer saber o que eu quis
Ah, o tempo passa e eu penso demais
Pra dizer ao vento que me satisfaz
E eu minto

Quartos de hotel
Há alguém que se perdeu
Se você perguntar o que eu fiz
Se você quer saber o que eu quis
Ah, o tempo passa e eu penso demais
Pra dizer ao vento que me satisfaz
Tanto faz
O tempo passa e eu penso demais
Pode ser que eu tenha te deixado pra trás
E eu sigo
E eu minto
E eu sinto

Se você perguntar o que eu fiz
Se você quer saber o que eu quis
Ah, o tempo passa e eu penso demais
Pra dizer ao vento que me satisfaz
Tanto faz
O tempo passa e eu penso demais
Pode ser que eu tenha te deixado pra trás
E eu sigo
E eu minto
E eu sinto
E eu sigo



IV. Volantes - Maçã


Estou abrindo mão
Por tanto tempo eu quis
Mas não sei por que razão não foi tão bom quanto se diz
Por aí
Vai ser fácil ver
Volta e meia algum deslize onde eu enxergue você
E pra ti
Tão difícil eu sei
Se já vinha em passos brandos
a tendência é que vá ser

Por um caminho longo
O dia inteiro pra chegar do outro lado da rua
E devolver suas coisas
Não quero nada que faça lembrar

Eterna briga pra esquecer
Por mais clichê que seja
O tempo vai dar conta e desfazer

Os nós mais apertados
Hábitos de cada manhã
Em que o calor vinha do lado
Já com gosto de maçã

Me diz por qual caminho
Você vai passar
Pra eu desviar
Eu quero andar sozinho




V. Raul Seixas - A Maçã

Se esse amor
Ficar entre nós dois
Vai ser tão pobre amor
Vai se gastar...

Se eu te amo e tu me amas
Um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais...

Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa num altar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...



VI. Cazuza - O nosso amor a gente inventa


O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver

Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu

O nosso amor
A gente inventa

Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa

Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica




VII. Vespas Mandarinas - Antes que você conte até dez


Posso escrever e não dissimular
É o que eu ganho por estar mais velho
Não tenho nada para impressionar
Nem por fora nem por dentro
E a noite inteira eu vou cruzando o mar
Porque os sonhos voam com o vento
Na minha janela é ele a soprar
Só pra ver se estou desperto
Me perdi num truque de palavras
Me anotaram mal a direção
Já escrevi meu nome numa bala
Já provei a carne de cação
E eu já tenho tudo planejado
E alguém disse que não, não, não, não, não
Agora o vento sopra pro outro lado
Me leva pela mão
E há quem diga não, não, não

E o que me levará ao final
Serão meus passos no caminho
Não vê que só se está atrás
Quando persegue seu destino
Sempre na minha mão tem um punhal
Nunca é o que era pra ter sido
Não é porque digo a verdade
E sim por nunca ter mentido

E eu não vou me sentir mal
Se algo não me sair bem
Aprendi a derrapar
E a me chocar contra esse chão
Que a vida simplesmente vai
Como a fumaça desse trem
Como um beijo e nada mais
Antes que você conte até dez
E eu não voltarei a ser estranho
A quem não chegara me conhecer
Também não vou dizer que eu te amo
Tão pouco deixarei de te querer
Deixei de voar e me afundei
No meio dessa lama eu encontrei
Algo de calor em teus abraços
Agora eu sei que nunca voltarei



VIII. Vespas Mandarinas - Retroceder Nunca (Render-se Jamais)


Não sei pr'onde vou
Mas não me deixo levar
Não tenho direção, nem aonde chegar
Não faço promessas
Pra não abandonar
Eu ando tão depressa, pra não divagar

E nada vai me parar
E não importa quem cruze o meu caminho
Eu estou sempre só, eu estou sempre sozinho

Só sei que eu não volto atrás
Retroceder e nunca, render-se jamais

Só sei que eu não volto atrás
Se eu errar o caminho, pra mim tanto faz
E o que importa um erro a mais
Retroceder nunca, render-se jamais




IX. Detonautas - Nem Me Lembro Mais


Nem me lembro mais
Quando te conheci
Tanto tempo faz
Que já mudamos
Nossa forma de agir...

Só me lembro bem
Do preço do seu olhar
E hoje me desfaço
Desse traço, sem pensar...

Não quero esquecer
Nenhum detalhe seu
Provo prá você
Minha memória é maior
E acho que cresceu...

Tenho a solução
Para essa falta
De consideração
Viver intensamente
Novamente
Cada situação em paz
Sempre e sempre em paz
Em paz!
Sempre em paz!

Pronto pra viver
Como ninguém mais
Tudo é melhor assim
Pronto pra viver
Quando tanto faz
Sem permitir um fim!



X. Detonautas - O Inferno São os Outros



O que seria da tua beleza
se eu fechasse os meus olhos para você?
Do que adiantaria essa tua ideologia
se a tua própria liberdade se transformasse em opressão?

Escute o meu silêncio

Talvez você não tenha percebido
que eu te quis também
Se ao menos eu pudesse te mostrar
que o inferno são os outros

Você não quis me escutar
e o tempo não parou

Vou sair pra ver o sol
Vou mentir e dizer que não sou feliz
Vou sair pra ver o sol
Deixo a porta aberta se quiser voltar
mas saiba que eu também consigo viver só

A solidão quem me ensinou a ser mais forte
E a qualquer lugar eu vou sem medo

Você não quis me escutar
e o tempo não parou
Vou sair pra ver o sol
Vou mentir e dizer que não sou feliz

domingo, 25 de dezembro de 2011

As coisas boas de 2011

Os dez discos a serem listados aqui mereceriam um post (merecem bem mais, mas é o que pude arrumar por enquanto). Meu sonho: tê-los em cópias originais. Por enquanto, acho que só vou tê-los em 2012 (vamos fazer uma forcinha e presentear o pobre coitado aqui, né?)

Enfim, choramingos à parte, o meu 2011 foi incrível em parte por causa dessa trilha sonora aqui: o top 10 (na minha opinião) dos melhores acontecimentos musicais de 2011, selecionados por álbum.

10. Marcelo Jeneci - Feito pra acabar (2010)


O disco primeiro de Marcelo Jeneci (e sua parceira de voz perfeita Laura Lavieri) perdurou por alguns meses na minha consciência. Me fez apaixonar, iludir, sorrir, chorar, acordar e dormir vendo a vida de uma forma diferente. Esse ano conheci uma porção de artistas sensacionais da nova MBP graças ao Grêmio Recreativo MTV, meu programa preferido da versão tupiniquim da empresa americana de música e tevê. Comandado por Arnaldo Antunes, os encontros foram sensacionais. Eu conhecia a obra de Jeneci e nem sabia! "Amado", de Vanessa DaMatta, que tocou tanto em novelas, é uma composição dele. Valeu muito a pena ter tido contato com esse disco que, apesar de ser lançado em 2010, só chegou a mim em 2011 e me trouxe um pouco de perseverança pra uma porção de coisa esse ano. Por isso entra no meu top 10 de discos preferidos de 2011, Já  esperando desde já o próximo disco do Jeneci e da Lavieri (dessa vez, com o nome dela na capa, afinal ela merece muito!)








9. Ortinho - Herói Trancado (2010)

Ortinho é um herói. Um herói que mora bem perto. Há duas horas, eu poderia chegar em sua terra natal, Garanhuns. Conheci Ortinho também pelo Grêmio Recreativo esse ano. Vi o quanto a voz do cara é foda e como sua música é forte o suficiente pra perambular entre a MPB e o Rock, sendo que é mais puxado pro Rock mesmo, de onde ele veio. Acredito que Herói Trancado é até então a obra-mor do compositor pernambucano, que escreve de tudo um pouco. Apoiado por Arnaldo Antunes, lançou um disco sensacional e se tornou meu preferido no player do celular. Hoje Ortinho, com saudades do mundo, conquista-o!





8. Miranda Kassin e André Frateschi - Hits do Underground (2010)



O disco de Kassin e Frateschi é de covers de bandas "underground" (esse termo cada vez mais se desfaz à medida que a internet vai se tornando o principal canal de consumo de músicas). No disco podemos encontrar versões de músicas do Cérebro Eletrônico, Vanguart, Wado e um monte de outras bandas. Na voz de Kassin e Frateschi, as músicas ganham novas nuances. Só tive contato com o disco mesmo esse ano, por isso ele entra na listas de surpresinhas de 2011. Vale muito a pena escutar essa benção, minha jóia! 







7. Beady Eye - Different Gear, Still Speeding (2011)


O novo álbum dos ex-Oasis (todos, menos o Noel Gallagher) tem uma pegada mais beatlemaníaca e, consequentemente, uma proposta de som fantástica. Ao passo que revisita o estilo do britpop antigão, inova em relação ao Oasis, de maneira que chega a ser difícil relacionarmos uma banda a outra por conta da proposta. Os ex-Oasis foram buscar sua própria identidade no passado para lidar o futuro, e o disco ficou tão bom que você não pode deixar de curtir!













6. Noel Gallagher - Noel Gallagher's High Flying Birds (2011)


Quando Noel lançou este disco, estava formada a aposta de quem iria fazer mais sucesso: ele ou o irmão junto com os ex-Oasis. Além disso, todos estavam esperando para ver qual a estratégia que Noel iria utilizar em seu álbum solo. E eis que se descobre: pura poesia e música de qualidade. Noel é fantástico, seu disco vendeu mais que todos os ex-Oasis e lhe traz uma segurança capaz de dizer não se importar se o Oasis voltar a fazer turnê sem ele. Cada música é muito boa, um britpop inovador apesar de não ser tão arriscado quanto a banda de Liam Gallagher. Acredito que apesar do sucesso beatlemaniaco, nesse embate entre irmãos devemos dar uma vantagem à obra de Noel, pois a sensação que fica é que esse é um disco anacrônico. Enjoy, people!






5. Amy Winehouse - Lioness: Hidden Treasures (2011)



2011 foi um ano trágico. Perdemos Amy Winehouse, a rainha do Rhytm'n'Blues britânico contemporâneo. Seus agentes, no entanto, se apressaram em terminar de produzir o álbum de inéditas (e versões) que Amy estava gravando, e o resultado foi Lioness: Hidden Treasures. Um disco que, ao meu ver, não perde em nada em termos de qualidade para Back to Black. Uma verdadeira pena não vermos mais Amy cantando para nós. OBS: Eu me caso com quem quiser me dar uma cópia original de presente! 











4. Vespas Mandarinas - Sasha Grey EP (2011)

As Vespas Mandarinas, pra quem não conhece, é uma banda tipo "allstars" do underground tupiniquim. E que banda! Acompanho-os desde 2010, quando do lançamento do primeiro EP (Da Doo Ron Ron). Com Sasha Grey, a banda mostra o quanto evoluiu e o quanto promete. É hoje uma das minhas bandas brasileiras preferidas. Escuta os caras, gente!














3. Foo Fighters - Wasting Light (2011)

Wasting Light era um disco esperado tanto pelos fãs quanto pela banda, quando Ghrol, Chris, Nate, Smear e Hawkins decidiram, depois do show incrível em Wembley (acho que o maior da história da banda), se trancar numa garagem e gravar tudo em analógico. Com a participação de Butch Vig e Chris Novoselic (remetendo diretamente ao Nirvana), a banda finalmente parece ter superado os problemas de comparações. Dave Grohl deve ter se sentido firme sobre sua carreira diante de 80 mil fãs em Wembley e assim decidiu lidar com o passado. O resultado é um disco poderoso, com o padrão de qualidade rock'n'roll do Foo Fighters, junto a parcerias que deram um toque inovador aos arranjos. E é por isso que Wasting Light entra no top 3 dos meus discos mais surpreendentes de 2011! 






2. Karina Buhr - Longe de Onde

Karina é sensacional. Se eu me apaixonei no disco de estréia de sua carreira solo (o disco é "Eu Menti Pra Você", de 2010), nesse eu firmei minha condição de fã. Se tornou um sonho assistir a um show seu. Neste novo lançamento, Karina repete os aspectos que a fizeram sobressair e passar a ser conhecida com o primeiro disco (que timbre, voz e sotaque infinitamente maravilhosos!). É um tipo de mais do mesmo totalmente desejável, necessário, ao passo que todas as vezes que eu escutava "Eu Menti Pra Você", dava a vontade de mais e mais. Karina vem pro segundo lugar porque não vejo ninguém tão promissora quanto ela no Brasil. Vai crescer muito ainda se continuar seguindo essa direção. Simplesmente amo!






1. Nirvana - Nevermind (Deluxe Edition) 1991 (2011)



O primeiro lugar veio por ser uma reatualização de um álbum que marcou toda uma época, da qual eu descobri postumamente e tive finalmente, esse ano, a oportunidade de sentir na pele mais ou menos a explosão do que foi em 1991, quando foi lançado. O relançamento de Nevermind, do Nirvana, seguido da remasterização do disco e uma edição especial (deluxe) com faixas extras, de ensaio e raras, além do show foda em Paramount'91 (finalmente lançado e em HD) só podia entrar como primeiro lugar dessa minha list, considerando todo o fanatismo que eu tenho pela trupe de Cobain.







quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rock In Rio: Essências x Capitalismo


No Blog do Tico Santa Cruz dei minha opinião ao post que ele fez pra justificar a necessidade de o Rock In Rio ter outras atrações além do Rock. O mesmo ressaltou a importância de outros estilos como o Pop para a manutenção do evento, visto que, segundo as considerações dele, o consumo do Pop é quem paga boa parte das atrações que os próprios roqueiros curtem. Até então seria uma exclamação e um ponto final na tensão, mas as coisas não terminam por aí. Há muito mais envolvendo a questão entre roqueiros e não roqueiros no Rock In Rio. Essa foi, portanto, minha explanação:

"Explanação muito válida, mas acho que devemos pensar do ponto de vista do público roqueiro. Acredito que o Rock In Rio, justamente por ser uma marca, não perde seu caráter alienante. E por si só, o nome do evento sugeriria alguma exclusividade para um determinado gênero. É isso que causa todo o furdunço na cabeça dos roqueiros que querem exclusividades. Talvez por ausência de outros eventos grandes lá fora, talvez pela alienação que a marca insere facilmente na mente, estamos fadados a não ter uma fácil aceitação desse público em relação a outros estilos. É uma questão de comparar duas realidades distintas: o RIR enquanto produto capitalista e o RIR enquanto essência para uma tribo fiel. Essa busca por exclusividade justamente se dá pelo fato de outros gostos musicais diferentes do Rock dominarem o Brasil. Essa tensão entre roqueiros e não-roqueiros é menos visível lá fora porque lá o Rock é um dos gêneros que dominam. Aqui, a tensão é muito maior e criticar outros estilos no RIR é uma forma de autoafirmação.

Entendamos uma coisa: o Rock no Brasil (digo isso enquanto uma instituição social) busca um espaço só seu, assim como os festivais de música sertaneja tornam exclusiva a música sertaneja e os festivais micareteiros se concentram integralmente ao Axé. O Rock In Rio é um evento democrático e devemos elogiar isso, mas se for para sermos democráticos, deveríamos então ter um dia no Carnaval e na festa sertaneja só dedicado ao Rock. O certo é que a mesma crítica ocorreria por parte daqueles públicos em relação ao Rock, que já é comumente taxado nas cidades pequenas como estilo musical de maluco. Portanto, acredito que, considerando o RIR enquanto um produto e não uma essência, falta no Brasil um evento de grande porte realmente voltado para o público Roqueiro. Se já existe eu não conheço, mas é preciso existir pra ajudar na afirmação dessa autoafirmação. Acho até que é isso que falta pra parar com o fato de o rock ser pautado pela MTV ou por rádios Rick-Bonadiarianas.

Sabemos da utopia de um grande festival exclusivamente roqueiro no Brasil. Como dissestes, chega a ser economicamente inviável trazer nossos ídolos em vários dias se formos limitar o consumo da música somente aos roqueiros. Notamos aí uma relação do campo econômico com o campo cultural. Mas fã de rock costuma fechar os olhos pro campo econômico, desejando apenas sua dedicação ao campo cultural. O que quero dizer é que, enquanto campo econômico e cultural não se entrelaçarem de maneira ideal, não teremos esse evento. Isso significa que é preciso haver um maior investimento num rock de qualidade no Brasil através da internet, rádios e TV, para o aumento de consumidores do estilo e, assim, criarmos um público tão grande (mesmo que demore algumas gerações) quando o público consumidor de axé, pagode, forró e sertanejo. Enfim, é isso."

Mantenho, portanto, minha indagação a respeito da necessidade das relações entre campos simbólicos distintos e a consideração dos mesmos para o debate. Apontei uma possível solução, que é muito mais difícil de ser resolvida do que a conscientização dos próprios consumidores do evento, mas menos utópica do que esta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Que Feeling é Esse?



Sid, do Slipknot, dá um "mosh" no público pulando de uma torre de cerca de 4 metros de altura. O que justifica essa confiança no público para fazer isso?

O Slipknot é até então o grupo mais performático do Rock In Rio de 2011. Não é novidade tal fato. Talvez eles sejam mesmo o grupo mais performático do mundo atualmente (para além do Kiss, do Marilyn Manson, do Ozzy, etc.) e são famosos por isso além do som que empenham dentro do Nu Metal. 

Neste show do dia 25/09, durante toda a apresentação e sobe e desce de percussões, giratórias da bateria quase que a invertendo por completo, um fato surpreendente: enquanto era executada em coro a música Duality, Sid, dj do Slipknot, atravessa o corredor que divide a platéia e se encaminha para o limite da torre da mesa de som, situada na frente do palco. De lá, o público o assiste pular nas pessoas, que o seguram com cautela. É um momento que não podia passar despercebido por quem assiste a banda, seja do Rock in Rio ou em casa, acompanhando a transmissão na tv ou internet. É o que temos na sequência de imagem acima. Se você não viu o vídeo, ele está logo a seguir:


A grande questão é: como Sid, o carinha da banda que pulou no público, conseguiu fazer isso (por 2 vezes!) sem escrúpulos suficientes para o fazer voltar atrás?
Estamos falando de formas performáticas perigosas. Vemos isso com mais frequências entre os fãs, que quando sentem vontade, sobem no palco (quando é possível) e pulam para os outros da platéia segurarem. Essa atitude é conhecida no meio roqueiro como o termo "mosh". Mas é difícil encontrar essa ação com artistas, quando eles são os agentes produtores do entretenimento e, por isso, ocupam uma posição de admiração por parte de quem paga para lhes assistir. Talvez seja uma rotina do Slipknot em fazer isso por todos os lugares que eles vão - e, naturalmente, parte da performance - mas quero refletir sobre esse ato que não deixa de ser perigoso, o que poderia trazer um prejuízo para a banda caso as coisas descem errado e ninguém segurasse Sid. Outros artistas também fazem essas estripulias, como Kurt Cobain do Nirvana. Tais artistas parecem encontrar coragem suficiente em algum lugar para a prática a essa ação, somada à suas crenças (ou ausência mesmo ausência delas) de que irá sair tudo perfeito; estou falando, em outras palavras, que pode parecer que eles próprios nem se importam mais do que os fãs consigo mesmo quando vão fazer moshs ou outras performances de risco.

Defendo a ideia de que, quando as relações estão numa tensão harmônica em busca de um objetivo final cuja meta está sendo conquistada (no caso de um show, a satisfação da banda com o artista), criam-se laços, ainda que rápidos, de fidelidade e satisfação entre os agentes envolvidos. Sejam eles cliente e vendedor, patrão e empregado, fã ou ídolo. Talvez tenha sido por isso que Sid sentiu-se seguro em pular para aquele público que demonstrava satisfação com a banda a cada canção cantada. Talvez tenha sido porque Kurt Cobain apenas não se importava se iria se machucar (como aconteceu algumas vezes), mas entendia que pular no público durante um determinado momento seria uma atitude underground e rock'n'roll que valesse a pena (confira o show do vídeo abaixo)


Kurt Cobain e o Crowdsurfing - Surfando na Galera


O certo é que há algo no Rock (deve haver nos outros estilos musicais também, mas eu não sinto), seja ele colorido ou de death metal, em que se gera algo como um "clima" propício àquele momento, o que faz criar adrenalina e outras substâncias agradáveis no corpo, capazes de nos tirar dos braços cruzados e acompanhar com diversão o show. Deve ser por isso que temos as rodas punks, os moshs, os crowdsurfings, os headbangings (batimento de cabeça - um sucesso para quem tem cabelão; não é o meu caso mas é minha forma preferida de exalar satisfação nos shows de rock que assisto). 

Mas para além disso, há um sentimento de companheirismo mútuo. Ocorre quando os artistas pedem ajuda da platéia e eles atendem, ou quando os fãs se batem numa roda e se ajudam caso algum caia ou seja atingido pra valer em alguma parte do corpo que machuque muito. Aí eu já não sei até onde isso só acontece com o Rock, mas acho que pra cada estilo musical há uma maneira diferente de demonstrar essa rápida epifania. O que eu posso dizer é que fazer isso no rock é compensador e satisfatório (eu e meus amigos fazemos isso e concluímos isso convergentemente), e bem menos vulgar do que o beija-beija das micaretas, estupros dissimulados do funk e briga no forró por cantarem a mulher dos outros; portanto, meus aBEgos, ainda que eu volte pra casa com os braços roxos, eu prefiro é ir pra um show de ROCK, man!

sábado, 23 de julho de 2011

Amy Winehouse (14/09/1983 - 23/07/2011)





Não se sabe ao certo o que aconteceu. Como toda notícia bombástica com pessoas famosas, a própria imprensa segurar as informações e delas se utilizar quando lhe for conveniente é já uma prática velha e conhecida por todos. Quem sofre, obviamente são os fãs que devem estar descabeladamante procurando por verdades. Mas sobre fatos, temos ao menos um: Amy Winehouse, 27, se fora neste 23 de julho de 2011. Não será aqui extendido sobre sua possível causa de morte ou seus últimos momentos. Que fique para os livros dos biógrafos, os laudos médicos, as homenagens na TV e internet, enfim, o espírito parasitário de quem busca lucro  até nesses momentos mórbidos.

Esse post não tratará da maldade/bondade das drogas. Não abrirá os olhos para consumos do ilícito. Não buscará especulações, apesar de estarmos todos atentos às novas notícias. Apenas é uma reação à notícia. No momento (14h49), faz cerca de uma hora que passou na TV Brasileira o que estava se especulando no Twitter, com os retweets de uma ou outra pessoa sobre um possível boato do corpo de Amy Winehouse encontrado em seu apartamento em Londres. Depois o jornal The Sun, em poucas frases, passa a confirmar a informação ao momento em que o Jornal Hoje da Globo convoca o repórter Marcos Losekkan, de Londres, pra dar mais informações. A mídia até então não tinha informações oficiais, a não ser a nota da Polícia Metropolitana de Londres, que diz "A polícia foi chamada pelo serviço de emergência de Londres para o endereço na Camden Squares pouco depois das 16h05 de hoje, sábado, 23 de julho, seguindo relatos de que uma mulher foi achada desacordada". Com a confirmação pela agência de notícias Reuters e a CNN falando sobre o caso, não resta dúvida de que não se trata de um simples boato.

Alguma surpresa? Talvez. Mas é uma hipocrisia muito grande querermos dizer neste exato momento o que, de fato, teria feito Amy Winehouse morrer. Pelo que se tinha notícia, Amy estava em processo de gravação de seu novo disco de inéditas, estaria mais feliz e publicizava vontade em superar as drogas. Posso dizer que há 2 anos eu acreditava que Amy estaria prestes a aparecer morta a qualquer momento. Estava preparado para esta notícia. Hoje não. Pelas poucas notícias que tive dela (leia-se escândalos), acreditava eu que a mesma estaria de fato voltando pro mundo da música sem grandes problemas. Tive mais fé nela, mas infelizmente foi uma fé em algo perdido. A perdemos.



Permita-me só uma reflexão, caro leitor. Uma reflexão brotada por não ter passado pela situação, mas por conhecer o cotidiano desses indivíduos após ter lido várias biografias de artistas problemáticos. A fama é uma assassina tão forte quanto as drogas. O sentimento de poder por estar famoso tem por trás um sentimento forte de solidão humana. A pressão da mídia por uma imagem, muitos torcendo por um escândalo, enfim. E a descrença da ajuda humana seguida da certeza de que o alívio pode ser procurado com algum dinheiro. Hedonismo, no final das contas, é o último valor que prevalece quando tudo parece estar perdido. Estas são algumas das verdades por quais Amy estivera passando ultimamente. Era uma viciada qualquer e tentava viver como tal, mas nesse mundo ela jamais seria alguém normal novamente. Depois de seu "Back to Black", ela foi endeusada. Será mais ainda depois de sua morte, principalmente por ser aos 27 - o que para os conspiradores do Clube dos 27 significa mais uma prova de que há algo por trás dessa coincidência mórbida. De tal clube, fazem parte Brian Jones, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain - e agora Winehouse.

Back to Black é, para mim (e que fique claro que não digo isto por Amy ter morrido), um disco épico, que entra para a história. A certeza disso me fez comprar um dvd ao vivo da Amy apresentando seu disco, há alguns anos. Um disco de colecionador, que agora voltará as lojas infelizmente com preços abusivos por conta da morte de Amy. Enfim, quero apenas deixar claro que Back to Black é um disco tão explosivo para seu criador quanto fora Nevermind para Kurt Cobain.

Por fim, torço para que não lembremos de Amy Winehouse pelos seus escândalos e polêmicas, mas pela sua música, voz e vontade de existir - que é uma forma mal-compreendida da vontade de viver. Que nos lembremos do estilo, da dor que sentimos quando a vemos - agora, mais do que nunca, só mesmo em vídeos inatualizáveis - se esforçar para ficar em pé, sem esquecermos que não se trata um viciado de incompetente.

Incompetência mesmo são dos donos de opiniões que acham que a mesma estaria buscando a autodestruição pra aparecer na mídia.

Amy contribuiu muito para este mundo com sua arte. Infelizmente não durou muito, mas sempre levaremos consigo a doçura de sua voz e suas letras fortes e sem pudor.


domingo, 8 de maio de 2011

As últimas faces do rock no Brasil: para um novo Renascimento

Será preciso um estudo sério para dar conta satisfatoriamente da explicação dos ciclos das gerações musicais, pois ainda que pareça um trabalho complexo e questionável, tal fato com as gerações da música se mostra relevante e evidente. Para citar os últimos exemplos: no Rock, depois de uma inserção no Brasil vista de maneira crítica por parte de nacionalistas a partir da segunda metade do século XX por ser um produto cultural americano, e da adaptação da proposta inerente ao próprio rock sobre atitude e questionamento em relação à situação política brasileira que corresponde à Ditadura Militar, o que a grande mídia tem apresentado atualmente como rock às novas gerações é algo entendido como uma baixa do próprio estilo no Brasil. 

Os primeiros discos do NxZero e do Fresno, além a explosão do Cine e do Restart ditaram uma moda jovem e uma atitude dedicada ao consumo de crianças e adolescentes, numa faixa de 10 a 15 anos. A partir de 2005 essa nova onda da geração rock se instala e é mantida por programas da MTV Brasileira e o seriado Malhação, da Rede Globo. Estes dois mecanismos de compartilhamento de produtos culturais tem se mostrado como alguns dos principais no mundo juvenil. Mas como cada produto vendido tem uma validade, 2011 parece ser um ano em que essas bandas, ou as mais expressivas delas como o Restart, tem se saturado na TV por conta da expressiva exploração da imagem na TV que lhe renderam diversos prêmios, muito dos quais seguido de vaias, o que já indicava o começo do fim da era colorida

Restart.

Enquanto Fresno e NxZero simbolizam a rápida moda melancólica Emo na MTV, o Restart, mais um produto de Rick Bonadio, vendeu a ideia de rock para uma faixa etária delimitada, o que fez outras bandas mais antigas ou novas bandas que conservam as ideologias do politicamente incorreto (como muito se diz hoje) ou da crítica social deflagrarem ideias contrárias a essa padronização do que eles chamam de "rock da Disney". De fato, a proposta de bandas como o Restart é esquecer os problemas por quais o país e o mundo passa, problemas esses que foram refletidos por bandas como Titãs, Plebe Rude, Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Raul Seixas, Cazuza e toda uma outra geração que persiste em existir, mas só tem, em sua maioria, conseguido espaço ultimamente no meio underground. A proposta de viver a vida de moda livre, sem responsabilidades sociais, posicionamento político e sem a atitude crítica do rock tem colocado como o Restart como um vilão entre aqueles que querem o rock enquanto uma função social como a conscientização prática, além do divertimento. Inclusive tem, se colocado o Restart como uma banda de pop ao invés de rock para evitar esse conflito, mas é patente o mal-estar criado pela supervalorização da banda teen.

Enfim, com as mudanças na programação da MTV em 2011, nota-se que a supervalorização a bandas como o Restart tem perdido espaço na TV. 2011 também é o ano do Rock In Rio no Brasil, e isso pode fazer com que os velhos ideais do rock voltem e se apresentem a todas as gerações brasileiras, entrando em detrimento de maneira mais explicita com os valores de domesticação que bandas que fogem da realidade expõem. Ou mesmo, uma nova geração dentro do rock surgir, agradando ou não os ideais do passado, mas com certeza diferente do que é consumido hoje em excesso pela juventude.

Como a história do rock tem mostrado, os ciclos existem e nunca se mantêm. O New Wave e o movimento Hippie surgiram com a proposta de criar uma nova realidade, diferente do que viveram. Mas logo veio bandas como o Grunge e o Alternativo, para mostrar que a realidade era fria e dinâmica, e que continuava como um tema a ser trabalhado pelo rock. Não se pode dizer de certeza que haverá na grande mídia uma maior valorização ao Rock, mas uma coisa é certa: chegou a hora de ser esquecido o padrão de rock vendido na MTV de 2005 a 2010, seja pela decisão da própria empresa, seja pela saturação e demanda de uma série de consumidores de rock, que querem ter seus outros produtos valorizados também e suas faixas etárias respeitadas.

É nesse contexto de renovação que sugiro que estamos prestes a ter um novo Renascimento Cultural dentro do Rock'n'Roll, e tenho minhas apostas:

* O velho e bom rock tem se mostrado existente em bandas underground ou alternativas, e cabe à grande mídia oferecer espaço para essas bandas, ou mesmo essas bandas crescerem a partir de estratégias de divulgação na mídia alternativa que tem se consolidado cada vez mais - a internet. Particularmente, indico que escutem desde já o novo CD do Detonautas, quando for lançado, e as músicas dos Gametas, uma boa banda de hard rock;
* As bandas antigas estão voltando à MTV, e isso poderá fazer com que a juventude limitada a um único produto tenham possibilidade de conhecer a história do Rock e com isso modificar percepções acerca do estilo;
* Por fim, o que vier no futuro em termos de rock produzirá músicas considerando a crítica a essa época do "rock colorido".

É isso!

@nogomes

Dicas: