A cantora nascida na Bahia e crescida em Recife Karina Buhr surge na minha percepção a partir da primeira edição Grêmio Recreativo MTV, um programa de bom gosto comandado por Arnaldo Antunes que visa apresentar e socializar artistas novos e velhos, misturando as qualidades e individualidades entre já famosos e "novatos", termo que imputo aos que só agora recebem espaço numa mídia como a TV com maior ênfase. Engana-se, portanto, aquele que acha que esses "novatos" tenham começado a carreira agora. O caso de Buhr, por exemplo, é típico para demonstrar a dedicação à música por um longo tempo. Karina faz parte do Comadre Fulozinha, uma banda pernambucana que se destaca na música e no teatro (semelhante ao trabalho magnífico de Antônio Nóbrega) desde 1997. Conhecida no meio "underground" pernambucano e participando de algumas parcerias, pode-se dizer que Karina Buhr chega a seu ápice neste momento (e aposto que ainda pode chegar mais longe).
Mas porque Karina Buhr chama a atenção?
Inicialmente, sua beleza é motivo para não passar despercebida. Seus olhos esverdeados, reforçados pela maquiagem colorida, são apaixonantes. Em segundo lugar, seu jeito de menina tímida (apesar de mulher madura), que nos faz pensar se tratar de uma simples garota do nordeste sem tantas ambições, surpreende quaisquer um que veja seus shows devido à energia demonstrada. Em terceiro lugar, e o principal deles, sua música: o primeiro trabalho solo de Buhr, intitulado "Eu Menti Pra Você", é lançado em 2010 como um dos grandes discos do ano. Pela qualidade, conquistou maiores espaços, chamou a atenção. Músicos como Edgard Scandurra (Ira!) e Fernando Catatau (Cidadão Instigado) também contribuíram na produção e divulgação do disco, havendo participações destes em shows de Buhr (inclusive no Grêmio Recreativo MTV, que ficou encantador). Em termos de sonoridade do disco, há muita influência de diversas fontes e instrumentos, mas o mais marcante é a presença da percussão, que sobressai outros instrumentos. Em termos de estilo musical, há canções mais pesadas que rememoram ao rock e outras parecendo funk. A diversidade distribuída no disco, no entanto, é unificada sob uma característica em comum que também é marcante e especifica a naturalidade da cantora: o sotaque.
O Caleidoscópio da cultura regional
O timbre da voz de Buhr, somado a seu sotaque nordestino resplandece e se impõe diante de todo esse processo de equalização do sotaque do sudeste. Não é difícil encontrar artistas que eliminam seus sotaques regionais ao quererem tentar a vida em SP ou RJ. Até pra fugir do preconceito ou apresentar uma nova proposta de música mas dentro dos moldes sonoros acostumados por esses estados, tais artistas tentam de alguma maneira driblar essa influência. Deve ser por isso que, diante de tantos artistas vindos de tantos lugares, Karina Buhr se destaca e é elogiada justamente por manter os modos de dizer cotidianos do povo nordestino (não limito o sotaque de Buhr somente a Pernambuco porque eu, que sou alagoano, me identifico muito também com o sotaque dela). É muito satisfatório ver que esse sotaque e essa voz angariam fãs de outros lugares do país, pois a linguagem é também parte integrante de uma cultura regional - senão a mais expressiva parte integrante - e sua socialização é proveitosa no sentido de propagandear aquilo que outros tem limitado, além de tornar conhecido os nossos modos de nos expeessar.
Sobre as letras, Buhr mostra-se muito inteligente. Não estou subestimando a sua capacidade de compor, não falo disso. Me refiro à sabedoria em explorar o sotaque e a aparência de menina tímida para cantar músicas que vão da mais singela ludicidade à crítica social. Vale muito a pena conferir a proposta de cada música de seu disco solo.
Ao vivo, Karina Buhr não deixa a desejar. Desde o figurino, seja ele de renda ou extravagante, a cantora mostra uma presença de palco que desenha sua qualidade. Chamo-a de Caleidoscópio da cultura regional justamente por seu show parecer um Caleidoscópio, onde a pedra preciosa (afirmada pelas vestes brilhantes) está ali cantando e girando o microfone no pescoço, nos lembrando de The Who.
Por fim, fica o meu desejo de poder estar presente em alguma performance de Karina Buhr ao vivo. No dia em que ela aportar em Maceió (e espero que não demore muito), estarei lá para vê-la. Não é exagero dizer que tornei-me fã dela. Admiro a mescla entre o regional e o universal, entre o sotaque e a expressão que todos compreendem, entre o interiorano e o urbano. Karina Buhr é uma artista que traz orgulho e que tem tudo pra se afirmar cada vez mais, basta lidar com as ondas do sucesso, pois como a própria já diz em Ciranda do Incentivo, "Mas é preciso entrar no gráfico do mercado fonográfico..."
@nogomes
Caro, teu texto está ótimo. Eu também sou fã de Karina Buhr. Moro em João Pessoa, PB, e espero também que ela não demore muito para fazer shows por aqui. Eu posso estar enganado, mas a leitura que faço de Karina é um pouco diferente. Eu sou fã de Nietzsche e vejo muito desse filósofo nas letras de Buhr. Karina, na minha opinião, é niilista. Poucos chegam a esse estágio de conhecimento dela sobre modelos de pensamento culturalmente orientados. A música "Bem vindas" revela essa forma de pensar a vida. Ela invoca a morte porque as "belezas" do mundo não a enganam mais. Enfim, vou parar por aqui. Uma conversa sobre Karina rende. rs
ResponderExcluirAbraço!