Existe algo mais arriscado no mercado fonográfico do que uma banda de rock conhecida pelos estrondos que é capaz de provocar diminuir a tonelagem das guitarras e deixar um rap como estribilho num single que provavelmente carregará o álbum? Assim é The Catalyst, do Linkin Park, lançada no dia 2 de agosto deste ano. Com milhares de fãs da banda e/ou de apenas algumas músicas da banda, além dos críticos, do mundo se concentrando na escuta das rádios estrangeiras que detinham a exclusividade de serem as primeiras a lançarem a música na íntegra, o Linkin Park sem dúvida provocou uma tarde incomum na vida de muitas pessoas. Com certeza devem ter histórias hilárias, lamentáveis, dramáticas e etc. sobre como cada um fez para escutar à música ao vivo, seguida da entrevista de Chester Bennington, como aconteceu comigo ao passar algumas horas atrelado à BBC Radio 1 no dia do lançamento. Muitas foram as expressões dos fãs da banda. No site do fã-clube oficial no Brasil, o LinkinParkbr.com, muitos exprimiam em comentários diversos sentimentos, que variavam de impaciência a ódio mortal, além de amor eterno. Até que a música finalmente foi tocada.
Esta publicação tratará da forma como por mim foi recebida The Catalyst. Sou fã da banda enquanto grupo que se arrisca por novos rumos, uma atitude virtude tal que renova a estima de muita gente. "Isto aqui já sabemos que funciona, ok. Vamos pra outras coisas agora pra saber se funciona bem também". Ouvir isso de um integrante da banda chega a ser, no entanto, inovador pra mim.
The Catalyst marca um novo ciclo da banda pra comprovar realmente que eles não vão se limitar a um estilo único dentro do gênero Rock and Roll. Mas será que com esse experimentalismo todo e essa fome de ultrapassar fronteiras eles não estariam também ultrapassando o Rock enquanto gênero musical?
Músicas recentes como New Divide mostram que eles ainda estão entre os grandes produtores do Nu-Metal/New Metal. Comprovam que podem fazer em diversos momentos músicas com uma sonoridade tão grande quanto Hybrid Theory (2000) e Meteora (2003), até então considerados por muitos os melhores álbuns do Linkin Park. Across the Line, faixa excluída de Minutes to Midnight (2007), comprova mais uma vez a transformação daquela explosão de mistura eletrônica com Nu-Metal em um som mais cru, mais manual, característica fundamental de Minutes to Midnight.
Agora estamos em 2010, onde tudo começa de novo para os ouvintes de Linkin Park, onde o álbum começou para os integrantes da banda assim que terminaram as gravações de Minutes to Midnight e algumas turnês. Foi lançado, entre o período das turnês e a finalização de A Thousand Suns (2010), disco de re-estreia da banda, um single para ajudar as vítimas do Haiti no projeto Download for Donate. Intitulado de Blackbirds, a canção mostra a volta tradicional do rap que esteve ausente em boa parte dos minutos de Minutes to Midnight. Sinal de que Mike Shinoda voltaria novamente a fazer sua especialidade vocal neste novo álbum? Não se sabe ao certo. Além do rap de Shinoda, Blackbirds oferece uma sonoridade calma, quase uma canção de ninar.
Essa foi até então uma tentativa de análise sobre as últimas mudanças da sonoridade do Linkin Park. Caberá agora tratar da música que finalmente deu início ao novo ciclo da banda: The Catalyst.
Os primeiros 33 segundos são de introdução remetida aos scratches do DJ Joe Hahn, além do teclado ao fundo e a bateria de Rob Bourdon com sonoridade um tanto pop, que passa a acompanhar a música aos 15 segundos de faixa. A batida neste momento já indica a pretensão da música: a volta com força do eletrônico. Mas o mais interessante é perceber que as estrofes principais estão em Rap, onde as partes exclusivas de Bennington soam mais como passagem para uma nova estrofe de rap. Os backing vocals no final do rap (que é longamente compartilhado tanto por Bennington quanto por Shinoda) também mencionam que se trataria ali de uma música típicamente de rua: "No!" "Ôooo...". Dessa forma, percebe-se que o estribilho é um rap, detalhe muito incomum de se ouvir numa banda de rock, até mesmo no Linkin Park, que quase sempre punha como exclusiva as passagens de Chester Bennington como ponto mais forte das músicas. É sem dúvida sinal de que há algo de inédito vindo em A Thousand Suns por esta inovação.
Os solos da eletrônica soam tão frequentemente que parece que Joe Hahn se redimiu de seus efeitos. Se houve a sensação de que ele aparecia trabalhando pouco em algumas músicas do Linkin Park, os mais de cinco minutos de música do single por si só já põem Joe Hahn como a figura decisiva para que ela se completasse. As batidas de efeitos são tantas que se confundem com a bateria manual de Rob Bourdon.
A música em si pode parecer estranha. Se formos dividi-la contextualmente, podemos ter 2 momentos: The Catalyst enquanto Single e The Catalyst enquanto música de A Thousand Suns. Por que a divisão? Porque se entendermos que The Catalyst teria um fim em si mesmo, ela provavelmente causaria um efeito de interpretação diferente da The Catalyst entendida parte integrante do álbum. Como assim?
Desde que fazem entrevistas sobre A Thousand Suns, os integrantes da banda dizem que o cd tem uma natureza tão comum que tem de ser ouvido todo. Não é como um disco em que há vários singles, mas uma música Single que tem continuação nas outras faixas. E isso não quer dizer também que A Thousand Suns não venha a ter outros singles. Para os integrantes do Linkin Park, esse novo trabalho tem uma continuação a cada faixa, culminando certamente na última música do álbum. É como algumas bandas de heavy metal que costumam tratar de alguma saga num disco. Muito provavelmente, se The Catalyst for pensada pura e simplesmente como um single, desligado das outras músicas do álbum, poderá gerar uma receptividade própria perante os críticos e/ou fãs, que em certa medida se difere da música entendida como parte integrante de um álbum que marca um novo ciclo na banda. Enquanto Single, é ela somente o que importa, mesmo que venham outras músicas acompanhadas pelo tipo da mídia fornecida. Toda a crítica cai em cima da faixa como se esta tivesse fim em si mesmo, rejeitando outros detalhes. Creio ser muito provavelmente o que vai acontecer por estes dias com The Catalyst, até a data de lançamento mundial de A Thousand Suns.
Em geral, um single recebe críticas determinadas, a principiar do momento em que um single seja entendido como uma música-símbolo que representa uma banda num determinado momento. Isso traz como consequência variados argumentos para a faixa-single, como as costumeiras reduções da banda à música que ela produz (ou o autor pela obra). The Catalyst tem um som que mais lembra um pop do que um rock em si mesmo. No entanto, é um erro grave se limitarmos a taxar o Linkin Park como uma banda Pop por causa de um single que lembra um Pop. Pior ainda se as expectativas do álbum completo se limitarem à audição de um Single.
Até agora, o que foi tratado sobre The Catalyst diz respeito à esta faixa enquanto single. Procurei mostrar algums comentários críticos que poderiam ocorrer, e justifiquei com a hipótese de que tais potenciais críticas se explicam pela própria natureza de um single. Resta agora tratar de The Catalyst enquanto música articulada dentro de um álbum.
Retomando o que já havia escrito, os integrantes da banda não param de dizer que A Thousand Suns é um disco para ser ouvido apropriadamente como se estivesse numa viagem - ou seja, sugerem uma audição integral do disco, de, segundo alguns dizem, aproximadamente 40 a 50 minutos. Os próprios músicos inferem ainda que a produção do disco foi ela mesma uma "viagem".
The Catalyst é tão arriscada enquanto single porque provavelmente se encaixa justamente nessa "viagem" do disco. Ela é a penúltima faixa, segundo informações do Linkinparkbr.com. Acredita-se ainda que a organização das faixas tenham algum efeito, pois aposta-se em The Catalyst como uma música de sonoridade mais conclusiva do que introdutória para um álbum. Sendo assim, creio que a natureza das críticas para com a faixa-título deste post enquanto parte integrante de um disco de inéditas tenha uma outra peculiaridade e uma outra receptividade, onde por fim reconheçam que tem a ver com um som totalmente inovador, que é a receptividade que estou particularmente apostando agora.
The Catalyst é uma carta de bem-vindo aos fãs. É mais uma vez a prova de que o que importa é que o artista recupera a liberdade perante a obra que produz, pois não é preciso provar mais nada pra ninguém. E eles estão conseguindo cada vez mais quebrar barreiras e com sucesso, que é o que importa. Vide as vendas e pré-vendas no itunes tanto da faixa quanto do álbum, que se multiplicaram desde o lançamento de The Catalyst, neste 2 de agosto.
Por Claudionor Gomes (@NoGomes)