segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Slipknot: As Vibrações Que Recriam os Impulsos do Rock And Roll e Resgatam Sua Essência.


Por Wanderson Gomes




Abrir o olho! Enxergar! Enxergar mais do que se pode ver ou do que se quer que veja. A tolerância das relações cotidianas, os desprazeres do mundo “moderno”, a embriaguez que causa a “God Industry” são mais sombrias, menos ocultas e mais descaradas do que propriamente as batidas provindas dos corpos que exalam o Rock And Roll. Essa comparação preliminar possui uma explicação básica: por décadas estudiosos de todas as áreas buscam contemplar o estilo musical em contraposição com a “paz”, o “amor” e a “fé” eclesiástica. Em outras palavras, quando a submissão e a crença alienante que cega e limita os indivíduos possuem seus postos ameaçados, as forças controversas se prestam a tentar intervir e mascarar a realidade, numa luta incansável pelo fim dos “porquês”.

Essa discussão sempre foi um dos objetos de trabalho de uma das maiores bandas de rock do mundo. O Slipknot, desde o lançamento do álbum homônimo, em 1999, se baseou em letras que estimulavam a produção artística de uma substância inédita. Não que o questionamento das “verdades imutáveis, inquebráveis” seja novidade no mundo do Rock, especialmente por ser essa a sua atitude pré-determinada, mas, sem sombra de dúvidas, começou a ser traduzida pelo Slipknot de uma forma que submetia ao extremo os sentimentos mais íntimos, dolorosos e obscuros com o qual o “homem moderno” poderia se confrontar. Dessa forma, o “Sou o empurrão que faz você mexer” sempre fez parte da filosofia da banda e esse aspecto é imprescindível aqui. Ou seja, se percebermos a produção de outras bandas da mesma corrente do rock, vamos, a partir de dados concretos, afirmar que, mesmo depois de aproximadamente 15 anos, Slipknot não alterou radicalmente a linhagem de sua produção material.
O niilismo presente nas canções é um valor do grupo que, por sua vez, variando entre vibrações violentas e outras mais melodicamente distribuídas, se buscou preservar a todo custo. As máscaras tenebrosas não escondem, não são desculpas para um palavreado ilimitado e medo das consequências, mas são sim uma contraposição jamais vista igual no “inferno industrial musical”, contraposição a um mundo que cultua o poder da perfeição física-material como produto de venda a preço acessível aos lobos do sistema da “arte”. Slipknot, está mais que óbvio, desperta medo, por questionar o inquestionável e se sobrepor a essências mesquinhas do espírito humano e seus desejos insaciáveis por fracasso... E mais fracasso. Slipknot se faz apaixonar, a partir do momento que implora agressivamente que faça você mesmo, não espere. Não espere! O sucesso merecido levou a banda aos postos mais altos da Billboard, tornou Joey o maior instrumentista, em sua área, do mundo. Imortalizou Paul Gray na “Fallen Heroes – Revista Revolver”, ao lado de ícones da música rock como The Rev (Avenged Sevenfold), Cliff Burton (Metallica), Dimebag Darrel (Pantera) (fonte: http://www.slipknotbr.com). Muitos outros discos de Ouro e Platina se tornaram costumeiros. Entretanto, seu espírito parece intocável, o mesmo espírito questionador e subversivo que estava ativo na criação do polêmico “The Heretic Anthem”. O mesmo que enxerga podridão por detrás dos sorrisos amarelados dos dirigentes pseudo-incorruptíveis.
O som Slipknotiano causa êxtase, é confuso por ser devastador, defende causas já tão perdidas no tempo pelo homem engravatado e que bebe nos fins de semana, como uma morfina que entope de certo prazer as suas dores. Enclausura o “tudo bem” e trás o medo à tona. O medo de tudo, a dor dos problemas convencionais e outros inexplicáveis, o pai que não se teve ou o sentido das coisas do mundo, como dois amigos que se vêem depois de um longo tempo para tomar um café e conversar, só que de uma forma extremamente mais energética. É nesta banda que o rock se materializou/personificou como grandioso, como ainda vivo, de proposta subversivamente ativa e revolucionária, como os estímulos antigos que o originou. O indescritível se descreve em Slipknot como comum e aberto a discussões, o impossível se alimenta só na casta eclesiástica, mas aqui é resgatado. As vibrações criaram a seus adeptos uma nova forma de ver o outro lado, um novo “Eu-Rock” que se autodenomina, sem a intervenção de terceiros. Não é tudo que causa o Slipknot, mas é uma tentativa de reflexão sobre o pouco que é passível de ser descrito com palavras.   



Material Exclusivo a:



domingo, 10 de outubro de 2010

SWU e um dos valores do Rock



RATM inflamou a plateia brasileira



RATM inflamou a plateia brasileira
por Abonico R. Smith, Joaquim Sarmento e Rodrigo Meister

Fotos: Urbanaque (RATM)

Noite 1 – 09.10.10 (sábado)

Se você não aprendeu depois de mais de meio século de História, preste atenção: o rock’n’roll é perigoso para a saúde do estabilishment e ele estará muito vivo sempre que houver alguém insatisfeito querendo mudanças na política, na sociedade, nas artes, no SISTEMA. Os conservadores podem chiar; os detentores do poder, censurar (ou pelo menos desejar isso); a maior rede de TV do país interromper abruptamente a transmissão ao vivo depois de ser xingada em uníssono pela plateia (estimada em 47 mil pessoas). Rock sempre será contra dogmas, censuras e cercas que separam a área à frente do palco para o público “seleto e VIP” que paga preço superfaturado pelo “privilégio”.

O SWU, ironicamente, aprendeu isso logo de cara. E honrou o seu nome (“começa com você”). Afinal, começou com o próprio festival tomando essas invertidas sob o comando (ora, veja só) da principal atração do primeiro e de todo os seus três dias. Não adianta cabeça de publicitário mauricinho bolar esquema grandiloquente em nome da conscientização sócio-ambiental e de uma pseudorrevitalização do espírito “paz-e-amor” que já não tinha lá muito sentido quatro décadas atrás em meio a todo o caos que envolveu o hoje inexplicavelmente mítico festival de Woodstock. Não teve a lama esperava pela chuva prevista, mas o Rage Against The Machine também honrou o seu nome (“Batalha contra a máquina”) literalmente jogou por terra abaixo toda a pretensão do SWU.

O mesmo vocalista Zack de la Rocha que incentivou pela internet a derrubada das barricadas foi “obrigado” a dar uma de cobrador de ônibus (ou seja, pedir em alto e bom som para a multidão dar uns passinhos para trás) numa das várias interrupções (forçadas pela produção?) de seu show. O guitarrista Tom Morello colocou na cabeça o boné do MST, para quem a banda cedeu os convites de cortesia da noite a que tinha direito. A multidão, ensandecida pelo som do RATM (tanto pelo grave arrasador do baixo de Tim Commerfold, as guitarras cortantes de Morello, a batida  quanto pelas letras de alto teor subversivo), mandou a toda-poderosa Globo e o próprio SWU “tomarem no cu”. Não adianta ser políticamente correto, ecologicamente engajado e financeiramente extorsivo (com estacionamento valendo cem reais e bares cobrando seis por cerveja e refrigerantes). Com a alma do rock’n’roll o negócio sempre vai ser mais embaixo. Mais para dentro. Nas entranhas. Visceral. E foda-se o resto, não importando o que se tem pela frente.






Zack de la Rocha: dedo na ferida
 Zack de la Rocha: dedo na ferida


Fonte: http://www.mondobacana.com/musica-outubro-2010/swu-brasil-%E2%80%93-ao-vivo.html

Em: 10/10/2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Resenha traduzida de Jordy Kasko sobre A Thousand Suns.


     É engraçado como funciona o negócio da música. Lançar um álbum de estreia surpreendente, e é geralmente reconhecido como tal pelos críticos e leigos, ajuda a estabelecer um padrão novo gênero, é repetido por muitos anos, e ajuda a banda na construção de uma base de fãs enorme.


         Depois disso é quando as coisas ficam estranhas. Se a banda em questão não resolve variar a sua fórmula, faz a música medíocre, que mantém muitos dos elementos do seu material original, e joga pelo seguro, seus fãs continuam apoiando eles e as críticas não são muito duras. No entanto, se a banda percebe que para ter um impacto real e duradouro sobre o mundo eles precisam ser ser líquidos, com vencimento a cada álbum, mudando o seu som, explorando um novo território, eles são caluniados pelos antigos "fãs" e críticos. Eles são desprezados por toda a internet, ignorados e/ou estripados pelos ouvintes de música elitista, e seus esforços em ir ao limite, em maduras músicas diferentes são ridicularizados, se é ou não justificada a farsa. E em muitos casos, não é.

         Linkin Park é um perfeito exemplo desse fenômeno. Embora eles certamente nunca foram queridinhos da crítica, sua estréia com Hybrid Theory 2000 iniciou a década com uma exposição enorme: nu-metal pode gerar uma boa música. Rap e rock não tem de se enfrentarem -  podem ser fundidos se você tiver um maçarico bem quente. Meteora, de 2003, riu na cara da crise do "segundo ano", afirmando veementemente que a música alta do rock moderno poderia ser boa, e instituindo o Linkin Park como uma das mais importantes e maiores bandas da década.

       Neste ponto, Bennington, Shinoda e Cia. poderiam ter lançado álbuns de rap/rock/metal até o fim dos tempos e, lentamente, cairiam no esquecimento como apenas outra banda de rock ultra-popular de rádio. Mas não. Eles se recusaram a fazer isso. Eles cresceram, liricamente e musicalmente, tendo quatro anos para fazer Minutes to Midnight (2007). E depois a parte engraçada do negócio da música bateu-lhes como um aríete. Ao invés de alegria, inúmeras pessoas ignorantes ignoraram as lindas letras políticas ("Hands Held High", "No More Sorrow"), as explorações épicas da paisagem sonora ("The Little Things Give You Away"), o percurso ligeiramente experimental (coro - menos "Dia dos Namorados", o crescendo de "In Pieces"), e as lembranças cativantes, como "fuck" de seus "eus" mais jovens ("Given Up", "Bleed It Out"). Talvez essas pessoas não mais cresceram como Linkin Park fez, e ficaram presos em sua angústia adolescente ou raiva masculina. Talvez eles quisessem música divertida, ao invés de uma boa música. Talvez eles fizeram suposições e expectativas estabelecidas em vez de abrir suas mentes para um novo som. Seja qual for o caso, Minutes to Midnight foi muito subestimado, visto que foi um dos melhores álbuns de rock dos anos 00.

     A verdade é que o Linkin Park foi uma banda de hard rock. Se você fosse um adolescente, adulto jovem, ou, simplesmente, em contato com suas emoções no início da década de 00, eles falaram diretamente com você. Mas eles já não são aquela banda. Em vez disso, eles amadureceram, experimentaram, e mudaram. Eles decidiram que os 2,5 álbuns sobre a raiva, alienação e angústia bastavam. Eles se mudaram para o que realmente importa neste mundo - pobreza, guerra, responsabilidade, vida, morte, desigualdade... e é aí que A Thousand Suns, de 2010, a quarta longa-metragem do Linkin Park, chega.

           Em primeiro lugar (sim, eu sei que seria estranho para finalmente começar a falar sobre o álbum em si. Está muito longe em uma revisão), Linkin Park tem uma obsessão com o apocalíptico. O título Minutes to Midnight em si foi uma referência ao "Doomsday Clock", uma invenção dos cientistas que tentam prever quando uma catástrofe nuclear irá eliminar todos nós. O álbum, porém, apenas parcialmente é jus ao seu título, e esse vazio é preenchido por A Thousand Suns. É um álbum conceitual sobre a guerra nuclear e Deus Todo-Poderoso - é muito apocalíptico, tanto musicalmente como liricamente. Nunca houve, e provavelmente nunca haverá, um álbum assim, que tão exatamente representa a destruição (potencial) da Terra pela humanidade e pela ciência.

            Em segundo lugar, A Thousand Suns é um ÁLBUM. Não é uma coleção de canções. Não é para ser escutado assim. A banda está indo tão longe a ponto de lançar uma versão do iTunes que é uma única faixa com 47 minutos e 56 segundos de duração. Isso não é mais um álbum "pelos padrões convencionais de Dark Side of the Moon ou Kid A é. Claro, há músicas de identificação, mas para compreender ou apreciar qualquer um deles você deve tomá-los no contexto de todo o álbum. Para representar este ponto, das 15 faixas de A Thousand Suns, apenas nove deles são "canções" completas. As outras 6 são faixas com vários temas recorrentes. A faixa de abertura, "The Requiem", é isso: a solidão, tema piano em menor repete-se; uma mulher canta letras que aparecem mais tarde na épica "The Catalyst" ("Deus salve-nos, todos / Vamos queimar sob o fogo de mil sóis") e transforma-se em uma voz assustadora, como a robótica voz de Martin Luther King Jr. será durante um discurso mostrado na realização da surpreendente "Wisdom, Justice, and Love.". "The Radiance" estabelece um outro motivo:os discursos. São samples do famoso discurso "Destroyer of Worlds"  de Oppenheimer - sobre os sons industriais e um batimento cardíaco rápido. Mais tarde, Mário Sávio e Marthin Luter King Jr. farão discursos ainda mais ameaçadores.

          A primeira "canção" atual é "Burning in the Skies", uma peça melódica com batida que lembra "Shadow of the Day", de Minutes To Midnight. Descrevendo a morte de inocentes, como o combustível para a guerra, não pode ser uma parte melhor de A Thousand Suns, mas dá o tom tão eficaz quanto as duas pistas da introdução. Seus maneirismos musical também recorrerem a "Robot Boy", que estripa aqueles que pensam que "a compaixão é uma falha", ou são demasiados centrada sobre si; sobre "Iridescent", cuja letra detalha uma espécie de celestial transcendência na sequência da destruição nuclear (" uma explosão de luz que cega todos os anjos "). É talvez o momento mais emocionante de um álbum que é sublimarmente  pessoal, ao mesmo tempo que é abrangente.

        Esses são os momentos de inspiração do rock alternativo. Mas o que dizer do rock? Linkin Park só não seria Linkin Park se não deixassem tudo solto ocasionalmente. E eles  o fazem. "When They Come For Me" apresenta a melhor percussão do ano ao fundo para o rap-ragga ao estilo Shinoda e um refrão épico sem palavras. E justamente quando a música não poderia ficar melhor, ele a faz: após um curto intervalo, seus últimos 35 segundos usam um recurso de estilo Oriente Médio no vocal que ecoam o coro na música. Ela é facilmente uma das melhores faixas do ano, tal como está "Wretches and Kings". Esta última começa com o famoso Mario Savio discursando "Corpos em cima das Máquinas", e segue perfeito em guitarras dissonantes e um ruído calamitoso que apresenta o melhor refrão que Chester já escreveu ou cantou ("Nós, os animais, iremos tomar o controle / ouçam-nos agora, claro e alto / miseráveis e reis, viemos para você"). Linkin Park vai além até de Rage Against the Machine em  nosso traseiro, com a consumação de nu-metal inspirado do Nine Inch Nails e Hybrid Theory. E no final, é nas pequenas coisas que fazem um álbum, e os toms que anunciam a vinda da ponte de "miseráveis e Kings" uma fonte dessas pequenas coisas.

              E para aqueles que esperam o grito de Chester, há mesmo algo para vocês: "Blackout". Abertura com tambores e sintetizadores em loop, a música não surge como um vilão num filme de terror, mas foge para cima de você. Em torno de um minuto, entra uma percussão requintada para compensar o que poderia ser melhor performance Chester até hoje. Quando ele grita "foda-se, você está ouvindo?", É melhor você estar ouvindo. As guitarras podem estar faltando, mas isso é mais hardcore da história do Linkin Park. Porque é real.

             Falando do real, as duas últimas faixas de A Thousand Suns valem a pena comentar antes de terminar esta análise e deixá-lo decidir por si mesmo se Linkin Park criou ou não um dos melhores álbuns de rock da história. "The Catalyst" é um épico somatório com chorusless  das últimas 13 faixas, combinando tudo em um grande finale. E então há "The Messenger". Como a primeira e última faixas de "Animals", do Pink Floyd, A Thousand Suns apresenta a declaração de encerramento com uma guitarra acústica solitária, alguns arranjos escassos de cordas, e Chester. Trata-se de ser otimista ainda que desolado, triste ainda que bonita. É a mensagem de redenção, trazidos a nós por esses mensageiros maravilhosos, que pode salvar a humanidade da destruição por "mil sóis". "Quando a vida nos deixa cego, o amor nos mantém bons." Nunca houve uma simples e mais verdadeira afirmação para fechar um álbum.

             Estou bem ciente de que muitos ouvintes não irão partilhar a minha opinião sobre este álbum. O mesmo já recebeu críticas bastante inquietantemente pobres (podemos realmente confinar naqueles críticos, se eles não puderem ver geniosidade neste álbum?) E foi atacado por nomes de tela aleatória por toda a internet (eu fiz um monte de investigação antes de me sentar para escrever este review)... e de alguma forma, a MTV (phaugh) decidiu chamá-lo de "Kid A Linkin Park," mesmo que não tivessem escutador Kid A, se eles fossem forçados a isso. Isso não é Kid A. Não é Pink Floyd. A Thousand Suns é um gênero completamente diferente, mas estão explorando esse gênero como as bandas anteriores deles exploraram. É uma jornada épica, uma força verdadeiramente apocalíptica da natureza, um álbum que não precisa ser classificadas por "canções" ou "singles" ou "vendas" ... em outras palavras, é a verdadeira arte. E é um inferno de um álbum.

Veja a resenha original em inglês no site http://www.reviewrinserepeat.com/artist/linkin-park/album/a-thousand-suns/review



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Um Trailer de A Thousand Suns

A primeira vez que tive oportunidade de escutar os 30 segundos de A Thousand Suns ocorreu no anoitecer desta seguna-feira, 06 de setembro, graças ao LinkinParkBR. Estamos a oito dias do lançamento oficial e um site chinês disponibilizou-nos essa oportunidade. Confesso que escutei cada 30 segundos umas 20 vezes. Algo tinha de ser dito a respeito. Parece Linkin Park demais, e ao mesmo tempo não parecem nada com eles. Estive escutando um disco do Muse (2009) um pouco antes, e talvez tenha algo de parecido, mas também tem muito a ver com muita coisa, ao passo que é algo completamente inédito. Sem querer julgar o "disco pela capa", mas já julgando, cada faixa é diferente e cada letra propõe uma coisa diferente. Um Chester calmo ao violão, um Chester que grita remixadamente. Uma fusão de vozes. Um rap de Shinoda e transcrições de discursos de Martin Luther King e Mario Savio. Grilos e bombas. E eletrônica. Muita eletrônica. Tenho total consciência de que o sentimento vai ser diferente quando tivermos ao álbum por completo, mas o que deve ser registrado atualmente é o seguinte:

O que é isso tudo? 

Há de certa forma uma síntese da mescla de Meteora (alguns arranjos e raps) com Reanimation (eletrônica) atravessada por Minutes to Midnight (a presença marcante de músicas suaves de Chester) e Fort Minor (com Mike Shinoda sobressaindo-se em algumas faixas que lembram muito seu trabalho solo).

É estranho. É Linkin Park.

sábado, 4 de setembro de 2010

Bob Dylan

Continuando a série "Músicas que Abrem os Olhos da Sociedade", desta vez é Bob Dylan quem aparece. Seus sucessos que datam desde 1963 dentro da folk music revelam um regionalismo de protesto, ainda que o artista não reconheça a posição de "canto de protesto". Blowin' in The Wind e Masters Of Wars são partículas da obra de Dylan, que, 48 anos depois de seu primeiro álbum, ainda se faz presente e presenteando a cultura folk rock com sua obra.




Blowin' in the Wind (Soprando no Vento) - Bob Dylan



Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar,
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar,
Até serem para sempre abandonadas?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja lavada pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir,
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça,
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim e quantas orelhas precisará ter um homem,
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento



Masters of Wars (Mestres da Guerra) - Bob Dylan

Venham seus senhores da guerra
Vocês que constroem as grandes armas
Vocês que constroem os aeroplanos da morte
Vocês que constroem todas as bombas
Vocês que se escondem atrás das paredes
Vocês que se escondem atrás das mesas
Eu só quero que vocês saibam
Que eu enxergo através de suas mascaras

Você que nunca fez nada
A não ser criar para a destruição
Você brinca com meu mundo
Como se fosse seu pequeno brinquedo
Você coloca uma arma em minha mão
E se esconde da minha vista
E se vira e corre longe
Quando as rajadas de balas voam

Como um Judas do passado
Você mente e engana
Uma guerra mundial pode ser vencida
Você quer que eu acredite
Mas eu enxergo através de seus olhos
E eu enxergo através de sua mente
Como enxergo através da água
Que escorre pelo meu ralo

Vocês aprontam os gatilhos
Para os outros atirar
Então vocês se afastam e assistem
Enquanto a contagem dos mortos aumenta
Vocês se escondem em suas mansões
Enquanto o sangue dos jovens
Escorre pelos seus corpos
E são enterrados na lama

Vocês jogaram o pior dos medos
Que possa ser lançado
Medo de trazer crianças
Para o mundo
Por ameaçarem meu filho
Ainda por nascer e sem nome
Vocês não valem o sangue
Que corre pelas suas veias

O quanto que eu sei
Para falar fora de hora?
Você pode dizer que sou jovem
Você pode dizer que sou inculto
Mas há uma coisa que eu sei
Embora eu seja mais novo que você
Nem Jesus jamais poderia
Perdoar o que você faz

Deixa eu te fazer uma pergunta
Será que seu dinheiro é mesmo tão forte?
Poderia comprar seu perdão?
Você acredita que pode?
Acho que irá descobrir
Quando sua morte te encontrar
Que todo o dinheiro do mundo
Não comprará de volta sua alma

E eu espero que você morra
E sua morte logo virá
Seguirei seu caixão
Na tarde pálida
E assistirei enquanto eles lhe abaixem
Para seu leito de morte
E ficarei de pé sob seu túmulo
Até ter certeza que estiver morto



segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Músicas que Abrem os olhos da sociedade

Podemos inferir que aquilo que rock é aquilo que faz você remexer de maneira louca e satisfatória por inúmeros motivos, e um dos mais recorrentes dele é o do protesto. Mesmo não sendo exclusivo, o gênero é um dos precursores e um dos maiores meios para se fazer cantos críticos. As forças das guitarras em algumas vertentes relembram um caos que deve ser lembrado, e a cultura, produto da própria sociedade, volta para a própria sociedade de maneira que é impossível dizer quem espelha quem. Canções tão proféticas, que foram tocadas há anos por insatisfação ressurgem sempre cada vez mais contemporâneas, sinalizando que por meio dessa produção cultural vemos que pouca coisa muda em nossa história. Hinos pela liberdade, músicas que tratam da violência, da esperança, de cunho mundial ou nacional. Começa agora no Rock e Sociedade uma série de músicas que marcaram época para no Brasil e no Mundo por seu caráter crítico, questionador, rebelde.

Os Sex Pistols representam a fundação do Punk Rock, ao lado de outros grandes nomes, como The Clash, The Ramones. Entenda-se o punk britânico como questionador dos padrões sociais da época, em que o alvo varia dos governantes ao capitalismo, bem como a vida ortodoxa. Como o punk "Pistolsiano" marca história, duas de suas músicas podem servir-nos para dizer que foram eles, mesmo que criados pra lançar moda (a história dos Pistols é sombria), aqueles que inspiraram muita gente a ir contra o sistema.




E.M.I - Sex Pistols

Há um estoque ilimitado

Não há uma razão porque

Eu digo a você que tudo era uma armação

Eles apenas fizeram-no por causa da fama

Quem? E.M.I E.M.I E.M.I
Muitas pessoas tem o ???

Muitas pessoas nos suportam

Uma quantia ilimitada

Muitos saídas dentro e fora

Quem?E.M.I E.M.I E.M.I
E senhor e amigos são crucificados

Um dia eles desejaram que nós tivessemos morrido

Nós somos uma soma

Nós não somos comandados por ninguém

Nunca, sempre, sempre
E vocês acharam que estavámos fingindo

Que nós todos só queriamos dinheiro

Você não acreditam que somos pra valer

Ou você perderia sua atração barata?
Não julgue um livro pela capa

A não ser que você cubra apenas outro

E aceitação cega é um sinal

de trouxas que ficam na linha

Como a.... E.M.I E.M.I E.M.I
Edição ilimitada

Com um estoque limitado

Esta foi a única razão

Para nós todos termos de dizer adeus
Há um estoque ilimitado (EMI)

Não há uma razão porque (EMI)

Eu digo a você que tudo era uma armação (EMI)

Eles apenas fizeram-no por causa da fama (EMI)

Eu não preciso de pressão

Eu não posso esperar os trouxas sem valor (EMI)

Oi, EMI Tchau, A & M


God Save The Queen (Deus Salve a Rainha) - Sex Pistols

Deus salve a rainha
Seu regime fascista
Fez de você um retardado
Bomba-H em potencial
Deus salve a rainha
Ela não é um ser humano
Não há futuro
Nos sonhos da Inglaterra
Não seja dito no que você quer
Não seja dito no que você precisa
Não há futuro
Sem futuro para você
Deus salve a rainha
Nós queremos dizer isso, cara
Nós amamos nossa rainha
Deus salve
Deus salve a rainha
Porque turistas são dinheiro
Nossa representante
Não é o que ela parece
Oh Deus salve história
Deus salve sua louca parada
Oh lorde Deus tenha piedade
Todos os crimes pagos
Quando não há futuro
Como pode haver pecado
Nós somos as flores
na lixeira
Nós somos o veneno
na sua máquina humana
Nós somos o futuro
Seu futuro
Deus salve a rainha

Nós queremos dizer isso, cara

Nós amamos nossa rainha

Deus salve

Não há futuro nos sonhos da Inglaterra

Deus salve a rainha

Nós queremos dizer isso, cara

Não há futuro

Nos sonhos da Inglaterra

Sem futuro pra você

Sem futuro pra mim

Nenhum futuro, sem futuro pra você

domingo, 29 de agosto de 2010

As impressões de The Catalyst

      
             De 02 a 26 de agosto podemos dizer que, para determinados milhões de expectadores, o mundo girou de maneira diferente. Desde antes do lançamento, o single The Catalyst já dava muito o que falar. As promoções e os previews, os poucos segundos que vazavam nas chamadas de rádios ou tvs de alguns países e, principalmente, a versão editada para o trailer do game Medal Of Honor vinham a colorir a imaginação de muitos que estavam à espera do mais novo álbum de inéditas do Linkin Park, A Thousand Suns. A princípio, podemos dizer que aquele som que foi escolhido pela banda como carta de apresentação para os fãs teve uma receptividade dividida. Podia-se perceber que, em várias partes do mundo, de acordo com muitos comentários em várias comunidades e sites na internet, enquanto muitos demonstravam fascínio e admiração com a coragem de a banda se arriscar com uma nova proposta de som, vários outros recuaram para as origens do Nu-Metal, acusando o Linkin Park inclusive de perder sua essência desde que lançaram Minutes to Midnight (2007), disco que viria a deixar o Nu-Metal de lado pela primeira vez. A inflexibilidade de críticas viriam a afirmar uma condição para aqueles fãs e promover uma questão fundamental para a relação artista-fã: afinal, qual a função daquele que produz uma obra de arte (pintura, livro, filme, música)? Agradar o público ou satisfazer a própria necessidade enquanto artista?

            Uma obra de arte pode ser entendida como um projeto subjetivo do artista que objetiva-se mediante meios de reprodução. Mas também pode ser resultado do requisito de alguém ou algum setor da sociedade. No caso da música, o mercado fonográfico, que costuma peneirar aqueles que ficam dentro ou fora do sucesso num determinado momento, é quem impõe as condições para o artista, de maneira que é necessário um tempo considerável de serviços prestados para o mercado fonográfico até que o artista possa finalmente conseguir autonomia para produzir o que quiser com o aval de liberdade fornecida pelo mercado, claro, se o artista conseguiu encontrar um campo fixo de sucesso recorrente. Este parece ser o caso do Linkin Park atualmente. Os três discos de inéditas fixaram um campo próprio na música com milhões de cópias vendidas. Tornou-se uma banda de reconhecimento mundial desde seu primeiro disco, e ainda não passou por nenhuma crise. Em outras palavras, sabendo que o sucesso possui altos e baixos, os números mostram que o Linkin Park continua com uma frequência de venda e audição tão forte no início, o que nos faz dizer que essa banda ainda não se viu na parte  "baixa" da fama. Um exemplo básico é a liderança de vendas de Minutes to Midnight, aquele que seria o pior CD da banda na opinião dos fãs reacionários do Linkin Park enquanto Nu-Metal.

           Mas afinal, que é o sucesso? Como se dá esse processo de subjetivação daquilo que é objetivo, ou seja, como se  dá o processo de um disco ou música entrar no gosto popular? A princípio, entendemos que se não fossem os mecanismos utilizáveis pelo artista, como as rádios, a TV - a comunicação de uma maneira geral -, a obra simplesmente ficaria conhecida em alguns lugares. A internet é uma das principais e mais recentes ferramentas de o artista expor sua obra. Essa nova ferramenta permite que o artista, principalmente o artista independente, se livre do cachê que tem que pagar pras rádios, além de fazer propaganda de seu som sem estar necessariamente ligado a uma gravadora, permitindo assim uma maior liberdade tanto na criação de sua obra quanto na sua repercussão. Se para um artista independente a internet é uma grande ferramenta de comunicação, imaginemos como a internet ajuda a quem já é mundialmente conhecido. Foi pela internet que o Linkin Park começou a inserir os fãs nessa nova fase da banda, liberando aos poucos tudo o que estava ligado à The Catalyst e consequentemente  a A Thousand Suns. Fizeram com que os fãs tivessem sede da música com as partes das músicas aos poucos liberadas aqui e ali... Fizeram com que os fãs tivessem fome do vídeo com as fotos lançadas no Facebook da banda. Aproveitaram a situação de apreensão por parte de todos os seus espectadores e fizeram várias entrevistas. Mike Shinoda e Phoenix viajaram para alguns países para participação em programas como a MTV, até que finalmente foi possível encontrar The Catalyst - Single e The Catalyst - Official Video, respectivamente a partir de 02 e 26 de agosto, datas de lançamento de um e de outro, em sites como o Youtube. E assim a TV e as rádios já tocam The Catalyst e então a música vai completando o ciclo do sucesso, vendendo cada vez mais e fazendo o disco single e o álbum A Thousand Suns serem comprados todos esses dias que antecedem a data de lançamento mundial do disco completo de inéditas.

            Se The Catalyst enquanto single foi recebido com uma série de dúvidas perante muitos ouvintes, o clipe oficial veio como uma onda que varreu estranhamentos. A direção de Joe Hahn  fez aquele novo som ter um vídeo tão consistente quanto o clipe de In The End, por exemplo, que foi é um dos singles mais conhecidos do LP. O clima de apreciação da destruição, os dois lados de uma aniquilação - a beleza da explosão e o caos do fim - foram conceitos trabalhados do começo ao fim da proposta da banda e exigiram dos próprios integrantes da banda um desgaste físico considerável, visto o excesso de fumaça e o semi-afogamento de Chester Bennington. Por fim, fica a impressão de reflexão sobre o futuro do planeta: "Vamos queimar sob a luz de mil sóis?"

              A partir do lançamento do clipe, vemos finalmente que o debate sobre qual a função da obra (se era pra satisfazer o artista ou o fã) se dilui. A banda soube exprimir-se chegando aonde queria chegar e alavancou ao mesmo tempo a estima de muitos fãs que tinham sérias dúvidas a respeito de A Thousand Suns. Parece que agora dá para compreender o conceito desse novo cd, que foi enfaticamente esclarecido por parte dos próprios integrantes da banda por ser um disco que deve ser escutado do começo ao fim, com músicas que se completam e se combinam. Além disso, é como se a música por si só não bastasse. Seria necessário um vídeo para demonstrar seu sentido enquanto obra. É isso que fez muitos os críticos do ritmo "popizado" de The Catalyst dizerem que o vídeo salvou a música e a mania de inovação da banda.

              Concluindo, estamos prestes a conhecer um novo ciclo do Linkin Park. A consequência inevitável disso é que teremos ex-fãs, os mesmos fãs que se tornarão mais fãs ainda e os novos fãs, já que mais uma vez o LP está indo bem mais além do que muitos pensavam que eles iriam.

Escrito por @Nogomes (Claudionor Gomes)



              

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

The Catalyst - Afinal, que som é esse?

Existe algo mais arriscado no mercado fonográfico do que uma banda de rock conhecida pelos estrondos que é capaz de provocar diminuir a tonelagem das guitarras e deixar um rap como estribilho num single que provavelmente carregará o álbum? Assim é The Catalyst, do Linkin Park, lançada no dia 2 de agosto deste ano. Com milhares de fãs da banda e/ou de apenas algumas músicas da banda, além dos críticos, do mundo se concentrando na escuta das rádios estrangeiras que detinham a exclusividade de serem as primeiras a lançarem a música na íntegra, o Linkin Park sem dúvida provocou uma tarde incomum na vida de muitas pessoas. Com certeza devem ter histórias hilárias, lamentáveis, dramáticas e etc. sobre como cada um fez para escutar à música ao vivo, seguida da entrevista de Chester Bennington, como aconteceu comigo ao passar algumas horas atrelado à BBC Radio 1 no dia do lançamento. Muitas foram as expressões dos fãs da banda. No site do fã-clube oficial no Brasil, o LinkinParkbr.com, muitos exprimiam em comentários diversos sentimentos, que variavam de impaciência a ódio mortal, além de amor eterno. Até que a música finalmente foi tocada.

Esta publicação tratará da forma como por mim foi recebida The Catalyst. Sou fã da banda enquanto grupo que se arrisca por novos rumos, uma atitude virtude tal que renova a estima de muita gente. "Isto aqui já sabemos que funciona, ok. Vamos pra outras coisas agora pra saber se funciona bem também". Ouvir isso de um integrante da banda chega a ser, no entanto, inovador pra mim.

The Catalyst marca um novo ciclo da banda pra comprovar realmente que eles não vão se limitar a um estilo único dentro do gênero Rock and Roll. Mas será que com esse experimentalismo todo e essa fome de ultrapassar fronteiras eles não estariam também ultrapassando o Rock enquanto gênero musical?

Músicas recentes como New Divide mostram que eles ainda estão entre os grandes produtores do Nu-Metal/New Metal. Comprovam que podem fazer em diversos momentos músicas com uma sonoridade tão grande quanto Hybrid Theory (2000)  e Meteora (2003), até então considerados por muitos os melhores álbuns do Linkin Park. Across the Line, faixa excluída de Minutes to Midnight (2007), comprova mais uma vez a transformação daquela explosão de mistura eletrônica com Nu-Metal em um som mais cru, mais manual, característica fundamental de Minutes to Midnight.

Agora estamos em 2010, onde tudo começa de novo para os ouvintes de Linkin Park, onde o álbum começou para os integrantes da banda assim que terminaram as gravações de Minutes to Midnight e algumas turnês. Foi lançado, entre o período das turnês e a finalização de A Thousand Suns (2010), disco de re-estreia da banda, um single para ajudar as vítimas do Haiti no projeto Download for Donate. Intitulado de Blackbirds, a canção mostra a volta tradicional do rap  que esteve ausente em boa parte dos minutos de Minutes to Midnight. Sinal de que Mike Shinoda voltaria novamente a fazer sua especialidade vocal neste novo álbum? Não se sabe ao certo. Além do rap de Shinoda, Blackbirds oferece uma sonoridade calma, quase uma canção de ninar.

Essa foi até então uma tentativa de análise sobre as últimas mudanças da sonoridade do Linkin Park. Caberá agora tratar da música que finalmente deu início ao novo ciclo da banda: The Catalyst.

Os primeiros 33 segundos são de introdução remetida aos scratches do DJ Joe Hahn, além do teclado ao fundo e a bateria de Rob Bourdon com sonoridade um tanto pop, que passa a acompanhar a música aos 15 segundos de faixa. A batida neste momento já indica a pretensão da música: a volta com força do eletrônico. Mas o mais interessante é perceber que as estrofes principais estão em Rap, onde as partes exclusivas de Bennington soam mais como passagem para uma nova estrofe de rap. Os backing vocals no final do rap (que é longamente compartilhado tanto por Bennington quanto por Shinoda) também mencionam que se trataria ali de uma música típicamente de rua: "No!" "Ôooo...". Dessa forma, percebe-se que o estribilho é um rap, detalhe muito incomum de se ouvir numa banda de rock, até mesmo no Linkin Park, que quase sempre punha como exclusiva as passagens de Chester Bennington como ponto mais forte das músicas. É sem dúvida sinal de que há algo de inédito vindo em A Thousand Suns por esta inovação.

Os solos da eletrônica soam tão frequentemente que parece que Joe Hahn se redimiu de seus efeitos. Se houve a sensação de que ele aparecia trabalhando pouco em algumas músicas do Linkin Park, os mais de cinco minutos de música do single por si só já põem Joe Hahn como a figura decisiva para que ela se completasse. As batidas de efeitos são tantas que se confundem com a bateria manual de Rob Bourdon.

A música em si pode parecer estranha. Se formos dividi-la contextualmente, podemos ter 2 momentos: The Catalyst enquanto Single e The Catalyst enquanto música de A Thousand Suns. Por que a divisão? Porque se entendermos que The Catalyst teria um fim em si mesmo, ela provavelmente causaria um efeito de interpretação diferente da The Catalyst entendida parte integrante do álbum. Como assim?

Desde que fazem entrevistas sobre A Thousand Suns, os integrantes da banda dizem que o cd tem uma natureza tão comum que tem de ser ouvido todo. Não é como um disco em que há vários singles, mas uma música Single que tem continuação nas outras faixas. E isso não quer dizer também que A Thousand Suns não venha a ter outros singles. Para os integrantes do Linkin Park, esse novo trabalho tem uma continuação a cada faixa, culminando certamente na última música do álbum. É como algumas bandas de heavy metal que  costumam tratar de alguma saga num disco. Muito provavelmente, se The Catalyst for pensada pura e simplesmente como um single, desligado das outras músicas do álbum, poderá gerar uma receptividade própria perante os críticos e/ou fãs, que em certa medida se difere da música entendida como parte integrante de um álbum que marca um novo ciclo na banda. Enquanto Single, é ela somente o que importa, mesmo que venham outras músicas acompanhadas pelo tipo da mídia fornecida. Toda a crítica cai em cima da faixa como se esta tivesse fim em si mesmo, rejeitando outros detalhes. Creio ser muito provavelmente o que vai acontecer por estes dias com The Catalyst, até a data de lançamento mundial de A Thousand Suns.

Em geral, um single recebe críticas determinadas, a principiar do momento em que um single seja entendido como uma música-símbolo que representa uma banda num determinado momento. Isso traz como consequência variados argumentos para a faixa-single, como as costumeiras reduções da banda à música que ela produz (ou o autor pela obra). The Catalyst tem um som que mais lembra um pop do que um rock em si mesmo. No entanto, é um erro grave se limitarmos a taxar o Linkin Park como uma banda Pop por causa de um single que lembra um Pop. Pior ainda se as expectativas do álbum completo se limitarem à audição de um Single.

Até agora, o que foi tratado sobre The Catalyst diz respeito à esta faixa enquanto single. Procurei mostrar algums comentários críticos que poderiam ocorrer, e justifiquei com a hipótese de que tais potenciais críticas se explicam pela própria natureza de um single. Resta agora tratar de The Catalyst enquanto música articulada dentro de um álbum.

Retomando o que já havia escrito, os integrantes da banda não param de dizer que A Thousand Suns é um disco para ser ouvido apropriadamente como se estivesse numa viagem - ou seja, sugerem uma audição integral do disco, de, segundo alguns dizem, aproximadamente 40 a 50 minutos. Os próprios músicos inferem ainda que a produção do disco foi ela mesma uma "viagem".

The Catalyst é tão arriscada enquanto single porque provavelmente se encaixa justamente nessa "viagem" do disco. Ela é a penúltima faixa, segundo informações do Linkinparkbr.com. Acredita-se ainda que a organização das faixas tenham algum efeito, pois aposta-se em The Catalyst como uma música de sonoridade mais conclusiva do que introdutória para um álbum. Sendo assim, creio que a natureza das críticas para com a faixa-título deste post enquanto parte integrante de um disco de inéditas tenha uma outra peculiaridade e uma outra receptividade, onde por fim reconheçam que tem a ver com um som totalmente inovador, que é a receptividade que estou particularmente apostando agora.

The Catalyst é uma carta de bem-vindo aos fãs. É mais uma vez a prova de que o que importa é que o artista recupera a liberdade perante a obra que produz, pois não é preciso provar mais nada pra ninguém. E eles estão conseguindo cada vez mais quebrar barreiras e com sucesso, que é o que importa. Vide as vendas e pré-vendas no itunes tanto da faixa quanto do álbum, que se multiplicaram desde o lançamento de The Catalyst, neste 2 de agosto.



Por Claudionor Gomes (@NoGomes)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Campus São Borja oferece disciplina de Sociologia do Rock

Fonte: http://www.unipampa.edu.br/portal/noticias/1008-campus-sao-borja-oferece-disciplina-de-sociologia-do-rock


Ter, 27 de Julho de 2010 20:43                                                             Por Heleno Nazário
O Campus São Borja da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) oferece a disciplina complementar de graduação (DCG) Sociologia do Rock, a partir do dia 2 de agosto. A novidade não está na proposta de aulas durante o recesso, mas sim na disciplina, que é única no Brasil. A disciplina complementar de graduação é uma produção coletiva coordenada pelos professores César Beras e Sávio de Azevedo, e fortalecida pela grande interação com alunos.

A procura por uma das 50 vagas foi grande – no total, a lista chegou a 190 nomes, contando alunos e pessoas da comunidade. Tanto interesse está sendo recompensado: os acadêmicos puderam participar desde a definição do programa de aulas à pesquisa e organização do conteúdo audiovisual e informativo. Apenas alunos matriculados, porém, vão assistir às aulas.

No dia 2 de agosto começam as aulas da versão intensiva da DCG, com 15 encontros até o dia 13 de agosto e um artigo como trabalho final. A versão extensiva tem início no dia 28 do mesmo mês, com 18 aulas e uma finalização diferente: como o intervalo entre as aulas será maior e estas vão ocorrer durante o segundo semestre letivo, a ideia é construir um levantamento chamado de “genealogia do rock em São Borja”. A pesquisa deve ir além do aspecto histórico e promete curiosidades. De acordo com o professor, há informações de que o primeiro evento público com apresentação de rock na cidade aconteceu nos anos 80 – em um CTG. 


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DCG vai explorar as ligações da sociedade com o rock and roll e vice-versa, afirma o professor César Beras, do Campus São Borja

Relações entre a música e a sociedade

A meta da disciplina é fazer os estudantes pensarem de que formas a sociedade configura o rock e vice-versa. Para isso, as aulas relacionam momentos e episódios históricos às origens e desdobramentos do gênero musical. “É possível entender e estudar as alterações no mundo de 1950 para cá compreendendo o rock'n roll”, afirma Beras.

Um conceito importante a ser usado na DCG é o de intercessor – que pode ser uma pessoa, um fato, um produto cultural – responsável por deflagrar uma mudança nas relações entre as pessoas e delas com as instituições. No caso do rock, as principais mudanças no mundo ocidental dos últimos 60 anos, da Guerra Fria ao advento da cibercultura, têm ligações com as ideias ventiladas para os jovens por meio das mais diversas bandas e propostas musicais.

Aulas de sociologia do rock são comuns nos Estados Unidos por motivos óbvios, diz o professor, mas uma disciplina desse ramo de estudos sociais ainda não existia no Brasil - embora pesquisas em diversas áreas das Ciências Sociais abordem o gênero musical em suas ligações com a sociedade. Por isso, a DCG vai ser aperfeiçoada com a experiência obtida na versão intensiva. A dinâmica das aulas também busca inovar: além das exposições tradicionais, cinco palestras (batizadas de “Papo Rock”), ministradas pelos professores dos diferentes cursos do Campus São Borja, devem abordar as relações entre diferentes temas de estudo, como literatura e cinema, com o rock.

Outros cinco momentos especiais serão as audições críticas (“Áudio Rock”), com direito a toca-discos e clássicos do gênero musical no vinil. “Tem gente que, por incrível que pareça, não conhece de perto um disco 'bolachão'”, conta o professor Beras. Finalmente, um dentre cinco filmes vai ser objeto de análise no “Cine Rock”, que vai acontecer uma única vez durante a disciplina, de acordo com o plano de aulas atual.